quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Depressão!


Isolado numa sala fechada! O corpo sente a pressão de não conseguir respirar, e já tudo começa a girar na minha cabeça. Sinto os dedos dormentes, as pernas com falta de uma força anteriormente extinta e um sabor amargo a mágoa e rancor.
Quero erguer-me, aproximar-me um milímetro da saída, mas o meu corpo já não responde às ordens deste cérebro em decomposição.
Estou num paradigma de fadiga e raiva que me consomem por dentro e expelem faíscas salgadas de lágrimas nos meus olhos. Deparo-me num caso de solidão que julgava inexistente nesta vida tão embriagada de doces momentos sociais. E agora verto um corpo numa casa despida de requinte, uma alma nua que só precisava de ser abraçada.
Afastado, sozinho no parapeito da realidade diária.
Chego a ter a casa cheia de um vazio que já não chega para me preencher, no entanto é a razão que me faz continuar. Mas que importa? É suficiente ver que aparento uma máscara de fortaleza para que tudo se mantenha conforme está.
Aqui estou, sentado, um cigarro, uma música que me faz chorar, uma solidão que quero pisar com os dedos das mãos. Fazer desaparecer esta vida que corre nas minhas veias e fazer surgir aquela que sonho até quando estou acordado.
Afastei um amor, um sofrimento causado por não ser capaz de retribuir. Amizades que se criaram, vidas que se separaram, e tudo o que tenho agora é uma mão cheia de nada. As conversas que tenho a um são deprimentes e já me acho ridículo! Tantas hipóteses, tantas tentativas falhadas, tanto e tão pouco que só me apetece bocejar com esta depressão.
Arrasto-me numa estrada perigosa onde o sol não consegue penetrar nas nuvens negras que pintei. E se sou eu o dono deste pincel mágico, porque não consigo pintar o que quero? Sim eu sei, não saber desenhar não ajuda, mas se tantos conseguem pintar e nem pegam no pincel, o que faço eu aqui fingindo que sou pintor? Rasgo a tela…
Depressão! Aqui estás sentada no vão das minhas escadas. Entras-te por uma porta que não quis abrir e deitaste-te comigo numa cama de raiva e pensamentos negativos.

Sinto que o meu corpo pertence a outro ser, que deixei de comandar a minha vida! Vejo a minha alma colocada de lado e o meu corpo a ser jogado como um fantoche nas mãos de alguém que desconheço. Não quero estar assim, preso com uma fita adesiva como se fosse uma encomenda perdida. Preciso de lutar contra este pertence invisível que me prende os movimentos, que me sufoca, que me deixa imóvel!
Desconheço de onde veio esta força redutora, é transparente perante uma visão cega por não querer acreditar na resposta que é dada, nem sequer escuto qualquer som quando chega. O único sentido alerta é o toque, esse que deixa de existir para ser domado por algo inexplicável! Real? Imaginação? O meu físico a reclamar por um vírus perigoso? Apenas sei que tenho medo que a noite chegue, que o facto de precisar de dormir se torna num fardo assustador porque não quero voltar a adormecer com receio de me sentir preso novamente!
Começo por tentar não pensar em nada, levar o meu pensamento para bem longe do que está a acontecer. Tento ir dormir quando as forças padecem e se desmoronam, mas mesmo assim, no momento em que estou a chegar ao local encantado dos sonhos, sou colocado entre a espada e a parede e fico desperto num imóvel doloroso! Acordo assustado mas não me consigo mexer. Sei onde estou, sinto o meu habitat à minha volta, mas o meu corpo não responde ao comando do cérebro. Tento abrir os olhos, em vão, quero falar, sem som, revirar o corpo… sinto-me morto! Fico num silêncio perturbador com um peso sobre o meu corpo, numa batalha para tentar um movimento que seja. E assim permaneço num tempo que desconheço as horas, em minutos que não conto os segundos, num momento que me parece eterno!
Se tivesse sido um acto isolado, se esta acção não se tivesse tornado constante, talvez me mantivesse inerte a esta questão. Mas esta situação insiste em penetrar a minha pele e possuir-me na noite que não quero que chegue.
Agora sinto que perco a minha vontade, que já nada importa porque não tenho desejo para nada. Olho-me no espelho e encontro um robot que responde ao comando da rotina. Sentimentos? Onde estão esses doces gracejos positivos que sempre fiz questão de manter na minha vida? Tudo o que me resta é esta vontade cortante de chorar e de me isolar do mundo. A única resposta que quero dar a tudo, é o silêncio…
Desisto de tentar entender o que querem de mim, o que se passa realmente neste momento com a minha alma, o meu corpo. Simplesmente deixo-me levar, entregando tudo o que tenho a esta prisão que desconheço o paradeiro! Desisto de lutar!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Numa manhã de Março



Porquê relembrar uma ferida que se tenta fechar e sarar? Porquê insistir na dor, quando a vida lá fora nos sorri e nos tenta encaminhar para uma felicidade alternativa? Não encontro explicação para a decisão que tomei, ainda estou a tentar digerir tudo o que disse e fiz. Mas por vezes a resposta menos lógica, é a resposta mais segura! E de que adianta investir em algo, quando o sentimento não é correspondido e apenas estamos a pisar mais um palco da vida, a representar mais uma peça em falta de actores, figurantes… público.
Não posso dizer que não estou a sofrer, que tudo isto me está a passar ao lado, que não passou tudo de mais uma brincadeira ou um capricho meu. Não! Sabia o que queria, sabia que desta vez queria tentar, que tinha chegado o momento de assentar, mas não funcionou. E é sempre preferível levar o barco até um lugar distante e desconhecido, do que naufragar.
Quero tentar perceber o que quero, encontrar um rumo a este caminho que traço diariamente. Quero poder olhar no espelho e encontrar um reflexo seguro e não envolto numa teia de mentiras e sufoco.
Em ti encontrei por momentos um porto seguro, um farol que foi o meu guia, mas a chama apagou-se e tive que acabar por atracar noutro porto, sozinho! Lamento as lágrimas! As minhas, e principalmente as tuas… Lamento ter despertado um sentimento que repudiavas e que não querias sentir. Lamento a forma como tudo acabou. Lamento ter de me afastar de ti para te proteger. Mas quem disse que a vida é um jogo fácil de jogar? Estamos constantemente a sofrer os dissabores dos dados.
Quero que penses em mim como uma porta, como um tapete vermelho que te levou até ao mundo ao qual tu realmente pertences. Se não te pedir demais, vê-me como aquele que de alguma forma te fez quebrar as amarras do teu ser e que te ajudou, por pouco que tenha sido, a libertar esse medo que não te deixava livre.
Vamos combinar apenas lembrar os poucos momentos de alegria que vivemos, e aprender com todos os maus que passamos. Esquecer as horas em que gritei contigo por dizer tudo o que pensava e outras tantas em que me calava por não saber o que dizer, com medo de me mostrar. Vamos esquecer os nossos mundos tão desiguais, as nossas diferenças tão vincadas e o que ficou por dizer… Vamos lembrar aquele dia… O nosso dia!
Obrigado! Não quero que me digas mais nada. Não me respondas. Apenas te quero dizer isto. Obrigado! Por me teres feito, num momento mágico, sentir especial, único, teu. Por me teres feito perceber que afinal não sou o objecto que pensei um dia ser. Obrigado por me amares, por estares comigo, por tanto e tão pouco que fizeste por mim.
Mas o jogo terminou e numa manhã de Março, lancei a última cartada. Quero que percebas que a minha decisão em nada esteve relacionada com terceiros e muito menos com um passado flutuante que já esqueci! Terminou, apenas isso.
Uma matilha de soluções, disparadas por uma garganta arranhada, infectada, engripada. Detalhes de uma constipação mal curada que originou uma pneumonia. E agora os médicos temem o pior! Mas porquê? Porque não tomaste o antivírus? Porque não houve precaução? Já não adianta, o paciente corre para os cuidados intensivos.
Explode o padrão com contornos de raios solares, tocando o que sou, iluminando o meu caminho. Luz? Incertezas constantes disfarçadas de uma certeza absoluta. Por agora, é isto que quero. O que pretendo é prosseguir como nunca quis. Sozinho.
E chovem rosas e margaridas, e cores pintadas aqui e acolá. Colam-se figuras dispersas nesta tela que é a vida.
E correm as veias, que percorrem todo o meu corpo, e se isolam numa espécie de tráfego em hora de ponta.
E reconheço caras, sons e sabores.
E parece-me tudo tão amargo, tão demasiado doce…
E esta consciência que não para de me atormentar o sistema. Que me confunde, e ora diz que sim, ora diz, tem cuidado. Mas de quem foi a infeliz ideia de a personificar num grilo? A minha devia ser um caracol, lento! E quando vê o perigo, fecha-se em casa.
Escrevo e não quero parar de o fazer. Escrever. Não quero deixar de gritar a minha dor. Não posso terminar, nunca, este diálogo interpessoal. Embora já não saiba o que quero! A dúvida transformou-se na minha sombra e agora não consigo ser uma espécie de Lucky Luke. Ela é mais ágil! Maldita!
Molhar o retrato em tinta-da-china, com gotas de oceano. As gotas! Essas ardentes lágrimas que brotam do meu coração! Encontro aqui, nesta bola de cristal, frágil, laranja fogo, um pequeno recanto para a minha solidão. Coisa rara! Uma espécie de magenta que se mistura no ar e retrata a molécula da minha existência.
Toque… carícia suave que me toca e sente. Estavas aí, no leito do meu ser, enroscado num ecrã transparente criado por mim.
Fim de tarde! Princípio de um final que não se deseja. Os dois, unidos numa nuvem de romance e paixão. Colocas-te o meu corpo na ponta dos teus dedos, e fizeste-me voar para lá do meu próprio desejo. E aí senti-me seguro! Segurança que mais tarde repudiei e que afastei com medo de sofrer, com medo de mim.
Agora estou aqui sozinho, a relembrar um momento que podias repetir vezes sem conta. Silêncio! Já não sei o que dizer… Vou limitar-me a soltar o meu pensamento e deixar transparecer em páginas de papel solto, o que quis com desejo, num passado tão presente, tão distante de um futuro. O nosso futuro!
Que encontres a felicidade um dia, e que eu não tenha sido o culpado de uma reviravolta na tua personagem. Não coloques em mim a culpa das tuas próximas decisões, das tuas atitudes vindouras. Aprende comigo a lição que tens a aprender, depois caminha. Sendo tu próprio o destino das tuas escolhas. Que a vida nos acolha no mesmo braço e nos volte a fazer sorrir.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Esperando por ti...




Esperando por ti, aqui nesta cadeira, nesta mesa, neste café por entre tantos, escolhido por ser um lugar comum. O ponto de encontro!
Esperando por ti. Um cigarro.
Esperando por ti, reparando sempre nas horas, olhando constantemente para o telemóvel que não toca, uma chamada tua que não chega.
Esperando por ti e este sufoco que se transforma num nó pesado, metálico, quase forca quase morte.
Esperando por ti. E o sol brilha tentando aquecer um frio que se instala lá fora, cá dentro.
Esperando por ti. Tocou! Corri para ver, ânsia cruel. Não eras tu… Onde andas? Espero por ti… Na companhia de uma folha de papel, caneta e esta música saborosa, suave, quase melancólica. E mais um cigarro.
Esperando por ti. Surgem as questões! Será que devo esperar? Será que aconteceu algo? Por onde andas? Será…? Logo agora que não tenho forma de te contactar.
Esperando por ti. Quase grito! Mas tento manter calada a voz, soltando-a em breves palavras esbatidas neste pedaço branco e traçado. Forma de expressão constante, amiga.
Esperando por ti!
Ainda continuo aqui, onde era suposto estares. Ponto de encontro. Mas tu não vens… E eu aqui!
Esperando por ti, esta porta que se vai abrindo trazendo para dentro o frio que se sente lá fora e que me toca, compreendendo-me, igualando-me.
Esperando por ti. Torna-se difícil esperar.
Tocou! Eras tu. Afinal estás aí… e não aqui! Aviso de que virás mais tarde, onde fico novamente à tua espera. Novamente…
Esperando por ti! Cansa-se a dor, canso-me deste cansaço constante, desta complexidade que não me deixa raciocinar.
(Esperando por ti.)
Fraquejo por não saber se serei capaz. Atormentam-me as dúvidas. Perdido, à deriva, como quem chama por mim sem ter uma voz familiar.
Esperando por ti! E a cidade através do vidro continua no seu movimento, na sua rotina de hoje, igual à de ontem. Ninguém espera por mim. Ninguém espera comigo! Sozinho aqui, esperando por ti.
Esperando por ti, repito-me como que num reflexo constante do que faço, delimitando esta leitura. Sim espero por ele!
Mais um cigarro.
Escuto o céu…
Esperando por ti. A pausa foi demorada. Alongada pela tentativa de criar uma montagem, um seguimento nesta história que podia ser como outra, mas não é! É desta. É o que se vive agora. Real. Presente e sabida. Vivida.
Esperando por ti! Ainda não estás aqui e vão voando os minutos que se transformam em horas porque um dia assim alguém o quis. Mas afinal quem fez o tempo? Só serve para nos fazer esperar.
Esperando por ti. E começo a desesperar. A entrar em conflito. A arrancar esta camada que protege os meus músculos. Vem, por favor! Faz-me acreditar que vale a pena esperar, que serei feliz e que tudo acabará por se transformar numa meiga vitória. Uma lágrima que cai… e é a última!
Esperando por ti, tanto por fazer, tanto para batalhar e construir. Quero acreditar que este tempo não é desnecessário, perdido. Quero acreditar que valerá a pena esta espera penosa que me cansa e me coloca à prova.
Esperando por ti. Preciso de ti aqui, mais do que nunca! Não entendes que me sinto a desfalecer? Não vês que começo a ausentar-me? É tudo tão novo e já me sinto a escapar. Obrigo-me a não desarmar, a continuar, a esperar.
E se espero por ti! Tanto que quase fui eu que defini e criei a espera. Quase que crio o tempo. Desespero e prendo a fonte que se criou no meu olhar, não por vontade, mas porque aqui nasceu. Porque me sinto perdido? Porque não sei o que fazer.
Esperando por ti. Na esperança que venhas num embalo de luz. Que com apenas um sorriso me faças esquecer tudo isto. Apagar esta espera da minha mete, ficando apenas guardada na minha caixinha de recordações.
Esperando por ti… Nem um sinal de ti! E as músicas que se vão repetindo, o braço que reclama por descanso, este lugar que se torna irritante. Estas vozes que se transformam em pedras nos meus ouvidos. Tudo isto que começa a perder o encanto… Pensar que sorri como num sonho quando aqui cheguei! Mas agora já é tudo pesado. Simplesmente porque espero por ti…
Esperando por ti. Já não sei se espero porque sou sádico, se para vislumbrar o terminus de tudo isto! Porque espero? Por amor? Por vontade de estar contigo? Mas como se já nem isso para mim faz sentido. Se pelo menos viesses, já estavas. Podia tentar resolver o que sinto e não sinto. Podíamos escutar-nos, tentar sair daqui.
Esperando por ti! E era hoje que talvez se pintasse algo neste quadro. Mas tu não vens…
Esperando por ti! E por ti me alongo aqui, me adianto tanto nas palavras. Que fazer? Não vens, não paro, o sentimento cresce, sente vontade de expor-se assim ferido, sem sentido!
Esperando por ti! Quantas horas? É tarde… Não vale a pena insistir. Desiste quando tudo já não existe. Chegou o momento. Investe apenas no que vale a pena e se não valer, valha-nos a aprendizagem!
Esperando por ti? Já não…
Não esperes por mim agora. Não quando me tiveste e não me valorizaste! Fui teu… Mas não foste meu…
Esperei por ti!

sábado, 15 de dezembro de 2007

Amarra


Seria tudo tão mais fácil… se pudéssemos voar por cima de um campo aberto. Soltar o cabelo, porque não tínhamos elástico. Viajar sem destino, sem dar contas a ninguém. Seria tudo tão mais fácil, se o sol brilhasse a toda a hora para poder iluminar todos os corações que se fecham na penumbra da noite, se encontrássemos um espelho, sempre que é necessário mostrar o que são a quem é, se fosse possível retirar do mundo toda a poeira que nele se instalou…
É na luta por um lugar ao sol, na tentativa de se conquistar algo que devia ser de todos por direito, que nos encontramos nas entranhas de uma rima emparelhada! Quando olhamos para todos os lados e só quando tentamos andar é que vemos que temos o pé preso. É numa gruta na ilha Ítaca, que verificamos que somos menores, que não temos por onde ir, que nos sentimos amarrados!
Não vale a pena tentar procurar uma saída, tentar encontrar uma chave para a tal porta que não existe, um mapa que nos mostre o x, uma bússola que nos indique o caminho, um sinal de fumo que nos mostre companhia. A resposta ao enigma está tão à mão de semear, que até parece comédia ver quem a procura.
Mas estamos cegos, estamos enclausurados numa bola transparente de vício e de horror. De encantamentos disfarçados de mentiras. De segredos desbocados, que somente nós não os queremos ver. E já é demasiado tarde para não sofrermos. Demasiado retardado este caminhar que há muito devia ter ficado pregado ao chão. Quisemos investir num conto de fadas? Pois bem, agora a Bela Adormecida despertou, e de princesa nada tem!
E é tão plástica esta amarra. Tão frágil e tão pesada. Tão irritante e transparente! Ai se eu soubesse que seria tudo desta forma. Se eu antevisse que o relógio iria marcar meio-dia quando era meia-noite. Damos tantas voltas para tentarmos desfrutar de um pedaço de terra, para depois chegar um vapor de vento e roubar o que trabalhamos para ter.
Não vale a pena andarmos com rodeios, com complexidades. Podemos dizer a palavra simples com simplicidade, mas acabamos sempre por pintá-la de tantas maneiras. E para quê? Para nos magoarmos ainda mais?
O que falo aqui é de amor! Aquele que nos prende e baralha. Aquele que nos amarra a uma ínfima parte do universo. Que nos arrasta na cauda de um cometa. Que nos tortura sempre que tudo corre mal. Expresso o que é chegar ao final do dia, e vermos que a nossa luta foi em vão, pois o outro lado trata-nos com tal desprezo, que nos sentimos então, pequenos na ilha de Ítaca.
E é tudo tão verosímil que chega a fazer cócegas no cu de Zeus! É tudo tão subjectivo, que até a palavra tão se torna pequena, na ilha de Ítaca. E o tal Ulisses que não regressa do mar para nos salvar… Se eu pudesse voltar atrás, tantas decisões que não teria tomado, tantas jogadas que teria levado até ao fim. Mas agora já é tarde, e tenho de saber lidar com o que tenho e tentar ser feliz.
E eu que só queria dizer que é sufocante estar amarrado a alguém desta forma. Que quero quebrar as amarras e não consigo. Liberta-me! Deixa-me seguir a minha viagem. Se tiver de ser sozinho, que seja. Só não me trates como um boneco inanimado, sem vida e sentimentos. Sou mais do que isso. Sou aquele que em tão pouco tempo se esforçou para levar a um bom porto este barco. E se eu remava sozinho. Agora já não sei. Estás aí especado a olhar para mim, a veres-me espumar raiva dos poros, e não fazes nada.
E seria tudo tão mais fácil… Se mudasses esse teu mundo tão pequeno, tão mal construído, tão em falta de bons alicerces. Se desejasses mais, e trabalhasses em prole disso. Se não me dissesses que gostas de mim, e mostrasses o contrário. Seria tudo tão mais fácil! Agarrar o ar que respiras e fazer dele bolas de sabão. Fazer gelo da água que escorre do teu coração. Bater nessa tua cabeça dura só porque me apetecia. Seria tudo tão mais fácil… mas não é!
E a amarra contínua amarrada a mim, a ti, a nós!
Ajuda-me para parecer que o que faço não é em vão. Que o que quero não é descabido. Que afinal, há um sentido para tudo isto.
Desamarra-me!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Hospital


Vidas cruzadas, olhares trocados. Uma miscelânea de medos, ansiedades e sentimentos. Uma panóplia piedosa de morte e vida. Um lugar inacabado por lágrimas de alegria e tristeza.
Aqui tudo nasce! É uma partida para algo que nem sempre é seguro, mas que a todos diz respeito. Perfaz aqui, o início da jornada. A partida no jogo que é a vida. As cartas foram dadas e é tempo de se aprender a jogar.
Aqui, tudo morre! É o fim da jornada, onde tudo começou. Termina! Pouco ou nada há a dizer, apenas é visível no olhar que o jogo afinal tem de ser levado a sério. Sentido. Único. Pois quando o árbitro apita o final do campeonato, recolhe o jogador ao local que outrora fora o lugar do pontapé de saída.
Aprender a jogar é tarefa ambígua e dependente. É necessário bons treinadores, mas também um faro apurado por parte do jogador. Bem sei que por vezes, por mais que estes dois aspectos estejam patentes, o jogo pode ser controverso e decidir mudar o relvado, caindo o atleta em terreno falso, perigoso. Temos de ser ágeis, pois este jogo tem vida própria. É ele que nos comanda, portanto, há que estar preparado e nunca largar a bola dos pés.
Viagem eterna!
Males conjugam-se com vitórias. Colocam-se aqui à prova diversas componentes humanas, pois todos estão no teste onde é necessário terminar a cadeira.
Aqui se encontram o que alguns durante tanto tempo lutaram por aprender.
Aqui estão exemplares humanos de quem sofre por um corpo a necessitar de uma revisão, ou até, de uma reparação.
Aqui estão tantos outros que necessitam manter o sangue frio para o cérebro fluir. São estes o sedativo, o soro, o antibiótico das outras personagens. O apoio, o ombro amigo. Os que têm de positivar todo o elenco! Mas são também quem sofre por dentro, quem prende as lágrimas para não alarmar a peça.
Todos estão aqui, numa ligação repentina e inesperada. O público está do outro lado, incapaz de assistir a esta peça privada (arriscaria dizer que este público, nem sequer deseja ser parte integrante deste elenco). Não é suposto ser uma obra pública. Demasiado penosa. Bastante pessoal.
E as personagens trocam olhares de compreensão, até de algum reconforto. Não é necessário existir diálogo, o olhar vale mais do que isso. É um cinema mudo que transparece mais do que qualquer outro filme musical, tal não é o realismo dos olhos.
Por mais que se tente fugir, este é um lugar comum. Onde tudo começa, onde tudo acaba... Uma finta deste campeonato onde cada jogador é a sua equipa, onde se misturam necessidades. O objectivo é o mesmo, chegar sem faltas e o mais tardiamente ao lugar comum!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Porta




Abrem-te a porta. Estás inseguro? Em euforia? É este um lugar onde se misturam verdades, ou se inalam mentiras. Aqui tudo é permitido. Podemos criar uma personagem à nossa volta, podemos desabrochar o que prendemos no dia-a-dia. Libertam-se medos, criam-se ânsias por sermos brilhantes. Temos de beber cada momento, pois estar aqui não é uma repetição de sempre, como tal, há que ser encantador!
Podem aproveitar para estar aqui e descontrair uns momentos. Estar com os amigos. Deixarem-se levar pelo som e mover o corpo ao sabor de músicas frenéticas.
Seremos sempre provocados por plumas e lantejoulas. Por seres que gostam de ultrapassar os limites e surpreender as crenças mais religiosas. Mas também, quem disse que não era possível? Este é o recanto dos que são colocados de parte, dos que se colocam à margem.
Quase todos vivem para isto, para este momento em que se libertam máscaras que ficam sós a chorar, por se sentirem usadas. A maioria da corte vive ofuscada de medos. De sentimentos de revolta. E quando decidem enfrentar a população em manada, esquecem-se que não é criando marchas, dias, que se vão impor e mostrar que não são diferentes. Pelo contrário, é simplesmente a demonstração de que são diferentes.
Mas a noite é rainha e grupos de criações clandestinas seguem em romaria para estes guetos de declínio mental.
Pode parecer fatídico e falso, alguém que pertence, que frequenta, que está presente nestes locais, estar agora aqui, a enfrentar a sua própria colonização com palavras mordazes e ferozes. Indo contra o que quase todos vivem. Mas existe uma explicação.
Movo-me pela vontade de ser eu próprio, e já lá vai o tempo em que usava uma máscara para tentar enganar alguém. Hoje sou o que sou, e não me importo. Pertenço a uma sociedade uniforme e tento a cada dia que passa entrosar-me nessa mesma. Não sou adepto de tentar chamar a atenção para o que sou, até porque tudo não passa de opções e como tal, a ninguém diz respeito. Tento sim, vincular a minha personalidade e deixar que os outros apreciem a minha construção de vivência.
Vou a estes locais porque por agora são os únicos, públicos, onde posso descomprimir o meu corpo em danças e estar da forma que quero com a pessoa de quem gosto. Onde posso namorar enquanto me divirto e bebo um copo. Pois aqui não haverão julgamentos, apenas algumas críticas invejosas. E também porque acredito no respeito mútuo, sendo eu também praticante da mesma modalidade, portanto, há que não chocar susceptibilidades.
Em suma, brilhos que interagem com cabedal. Drogas que cheiram a base para o rosto. T-shirts que parecem vestidos. Neste local, a imaginação é a palavra de ordem. Mas a sinceridade vistosa também. Na sua grande maioria vemos seres despidos de si mesmos, conhecemos a realidade que é tão fugidia no mundo lá fora. E não vale a pena sentirmos pena. Apenas temos de tentar ter calma. Deus fez o Mundo em seis dias, não somos nós que o vamos mudar num minuto. Não quando todos vivemos no sétimo dia. Em descanso!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Esplanada do Chiado




Esplanada do chiado! Sentimento que aflora a pele, que me acaricia, me aperta e sorri. Aconteceu o despertar, a superioridade do sentido feroz de quem se tinha perdido algures, onde termina o arco-íris.
Poucas árvores, vegetação quase ausente. Uma escada exterior que me dá a sensação de elevação espiritual para um infinito desconhecido. Guia-me através do invisível, para um alento surreal, e quem sabe até, inexistente... Sei que estavam, reais, um toque! Para onde? Descobrir incapaz fui....
As pessoas passam e trocam olhares num sussurro inaudível, embora perceptível pelos pássaros que nos divertem com voos fugazes. Outras tantas, chegam e ficam. Onde desfrutam de uma pausa acompanhados quer de si mesmos, quer de seres que se foram acrescentando à própria existência.
A educação chega à mesa quando a empregada nos serve o chá de caramelo e baunilha. O doce aroma perfuma o ar que até então permanecia lisboeta. Inunda as narinas, criando festas ao estômago que festeja tal doce néctar. Aqui começa um momento, outro tanto, que era nada mais que uma saudade.
Conversas. Desabafos. Histórias. Duas vidas. A abertura é alargada e um ano, resumido em três horas. Impossível? Sem poder não há querer.
Regressam os carros, as passagens. Monstrengo amarelo defronte a um toldo que para cobrir, já não servia. Pessoas. Música ao fundo. Sussurros.
Tão junto do holocausto sonoro de uma cidade que causa impacto, e tão surdo este rebuliço tipicamente popular. Calma maresia que ao chegar nos transforma e amarra.
E eis que a noite se aproxima. O relógio marca hora aceitável. Mas ainda há tempo para mais. Ainda há tanto por dizer e contar. Por sonhar e divagar. A Felicidade! Ambos aqui. Felicidade! E misturam-se cores no horizonte, onde o céu nos serve de tela de mistura de aguarelas, de cores imaginárias. E misturam-se conhecimentos aqui neste passeio público, onde poucos ficam, onde poucos julgam perder um tempo. E misturam-se línguas...
Regresso. Sorriso estampado nos lábios. Olhos brilhantes. Paixão!
Tão curto e tão puro. Amizade aqui esbatida tão ferozmente confundida com um outro tipo de amor. Amamos sim. O que somos, o que se assemelha que seremos. O futuro é incerto. E afinal, há coincidências? Nós sabemos tão bem que não... Sonhos.
De volta ao passado, neste exacto momento. Quem diria?
Mudanças. E esta esplanada tão igual à de sempre, mudando apenas este elenco que pára e segue, por razões tão diversas e que podem até ser iguais às nossas.
Porquê parar aqui? Sossego, ou apenas o forte motivo da tal companhia que não somos nós próprios? Descontrai. Relaxa e repensa. Valerá a pena tal correria por essa estrada fora e não desfrutar destes pequenos prazeres? Vai à aventura. Arrisca, não tens nada a perder. Se for um risco, vem até aqui, esplanada da vida onde corpos se acumulam numa memória de ninguém!

Segredo


Desonesto! A realidade é para ser transmitida, sendo assim, é necessário dizer que não fui sincero comigo, com os outros.
Enrolei-me numa teia de mentiras que apenas por um golpe de sorte, não fui devorado pela aranha, sua criadora. E era tão fria esta teia, esta falsidade precária e bisonte.
Talvez fosse necessário este fingimento, talvez algo que tivesse de acontecer. Certezas não as há, pois essas tardam a chegar e quando chegam, apenas nos servem de lição. Apenas sei que foi uma história com passado e que é assustador relembrá-la. Maquiavélica. Suja. Vendida!
Ruas de uma vida onde batia a portas desconhecidas, que me podiam trazer os mais perigosos perigos. Um corpo que se colocava numa montra de necessidades incompreendidas. Facilidade, era o que se proponha!
Não posso dizer que me orgulho do que fiz, até porque as razões que me levaram a tal, não eram necessariamente convencionais. Mas era fantástico sentir-me desejado, nem que fosse pelo facto de ser usado. O cérebro bloqueava com o perigo e eu apenas queria o que tantos têm a mais.
Olho para trás e levanto-me para agradecer não ter caído num buraco profundo, do qual não fosse capaz de sair.
Fui confundido com seres cujos objectivos eram bem diferentes. Fui enaltecido por este espírito forte que me levava a lutar diariamente. E disseram-me tantas vezes para sair deste segredo. Os amigos, que sabiam, os outros que lá estavam comigo por momentos. Eu sabia que estava errado agir assim. Que não tinha necessidade de estar ali, a mentir, a oprimir, a denegrir-me. Mas já era tudo um vício forte que me prendia a um pilar coberto de cobras.
E era mágico! Porquê? Tentem perceber o quão é importante para todos nós sentirmo-nos desejados por alguém. Fiquem por aí. O desejo. Agora vão até um local onde todos os olhares são desejo. Onde todos nos querem. Onde se oferecem oportunidades de uma vida. Onde se falam de sonhos e se propõe a realizá-los. Era esta a magia que eu encontrava ali, tão à mão de semear.
Bem sei, que a maior parte desta vivência foi toda uma mentira, recheada de falsas promessas, de fortes enganos, de personalidades movidas por desejos meramente carnais. Mas sabia bem ser enganado docemente. Era como se nos passassem uma pequena camada de seda, numa pele de cacto.
Sentia-me um objecto, um peão num tabuleiro onde não era eu que comandava o jogo, mas era tão aliciante cada jogada, sempre nova e alternativa. Tudo podia mudar num segundo, ou não. Podia até entrar no jogo e nunca jogar, mas só a entrada valia a sensação.
Não sei se voltarei a encontrar as sensações que desfrutei ali, mas também não lhes sinto a falta, são hoje uma experiência sem orgulho. São hoje uma aprendizagem que fazem parte de mim, que estão vincadas no meu passado e que são hoje parte de mim, do que sou.
E é tão místico, o facto de não se perceber que pessoas comuns como nós, não possam esconder estes segredos. É inimaginável que alguém com o futuro no seu caminho, longo, possa tomar tais atitudes, tais deslizes psicológicos. Não quando se tem capacidades para dar muito mais, quando se tem capacidades para lutar, para dar a volta de uma outra forma, quando até se pode ser muito mais do que alguma vez alguém ambicionou ser.
Isto não é a marcação de um desgosto, de uma revolta, de um ódio, mas sim a delineação de que este parágrafo foi importante para me encontrar. E deve este, por agora, continuar como é, segredo de mim, deste retalho. É cedo para se descobrir que afinal não sou tão puro como se possa pensar. Que tenho recantos de mim onde a lixívia passou e não conseguiu penetrar, que afinal sou igual a tantos julgamentos que se fazem. Mas no fundo, tudo passou, e hoje sou a soma dessa passagem com tantas outras.
Segredo obscuro! Esta vida está recheada deles e eu sou apenas mais um que os possui. Era importante passar por aqui.
Segredo vertiginoso! É preciso gostar de aventuras, este foi o meu sentido de aventura. Colocar a vida em perigo.
Segredo!

"Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os cortinados
para uma sombra mais espessa.
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço.
Não contes do meu novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar"

Maria Teresa Horta

sábado, 8 de dezembro de 2007

Presente Modificador



Um mero olá, uma simples mensagem. Um visionamento perspicaz, uma aventura que se descortinava. Sem querer querendo, um desconhecido conhecimento aveludava-se de um coração abandonado que se julgava frio e inexistente.
Será tudo verdade, ou uma mentira que apenas pretende mudar de vida e colocar uma máscara? Nada é certo, nada é seguro. Apenas existem humanidades que se igualam e que procuram o mesmo fim.
A busca era semelhante, mas o receio constante. Uma luta feroz, uma dualidade de desejos. Um campo de batalha armado, uma guerra por fazer, que de santa nada possuía.
E é hora de perguntarmos se os passados nos movem, ou se apenas nos prendem quando queremos avançar. Nessa altura fica então pendente uma felicidade imaginária que apenas queria ser real e que em segredo chora escondida por entre a cega multidão!
Agora o relógio não pára, os dados estão lançados, o jogo tomou a sua partida e somos dois viajantes no que se julga ser a vida. Estamos em teste, numa onda perigosa, numa curva retorcida, num carrossel que vai girando conforme a disponibilidade.
Mas é tão doloroso este sentir, que chego a perguntar se valerá a pena rebentar as amarras do teu coração e querer uma felicidade tua, que é somente uma miragem minha. Sei que estás aí, que me queres, que sentes o que sinto. Estamos ambos no mesmo projecto idealista de uma pintura impressionista, mas sinto que a qualquer momento, pode o pintor mudar o rumo da criatividade e alterar o quadro que se julgava de dois seres, para surgir uma Mona Lisa que apenas olha para quem para ela olhar.
Tenho a certeza que tudo isto irá ficar ancorado na minha existência, pois foste tu que me fizeste mudar uma maneira de ver e agir. És tu que me fazes acreditar diariamente nas histórias banais de amor e verificar que essa banalidade vem apenas de quem não sabe que existe um amor, lá fora, próximo de nós, à beira de ser agarrado.
E se me perguntarem se não é tudo demasiado repentino, se não estou apenas a deixar-me levar por uma carência de sempre, vou apenas responder que até ao dia em que os nossos lábios se tocaram, eu desconhecia o que era desejar alguém sinceramente, o que era um simples beijo, o que era estar apaixonado. Sentir o coração disparar somente por as nossas mãos se terem sentido
Sim, amei, demasiado até! Mas foi tudo um erro. Uma amizade que pertence ao passado, que foi destruída e consumida por um amor singular, que só de mim fazia parte. E é esta tua chegada que me faz perceber o que eu afastava incessantemente. É possível alguém estar apaixonado por mim e eu retribuir tal belo sentimento.
A paixão já atraiu muitos amantes para o meu regalo, mas foram apenas momentos carnais passageiros, sem nexo, confusos. Foste tu que transformas-te o meu Mundo, a minha personagem. Não negues agora se te responsabilizarem por ter nascido uma característica que se julgava incapaz de surgir. Sou hoje metade do que fui, nada do que serei.
É este o último grito do meu coração, a última palpitação. Amanhã podes já não estar aqui, nesta aura. Mas ficarás marcado e vinculado nas minhas veias, que irão transparecer o teu rosto.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Passado flutuante



Ferida aberta, que insiste em não sarar. Paixão descoberta que reflecte a falta de amor-próprio anterior. Desejo que pertence ao passado, mas que se mantém como uma chama que não se apaga. Pouco ou nada há a fazer, apenas retalhar todas as pegadas que ficaram para trás e que as ondas do mar preferiram manter intactas.
Agora é tempo de fazer um retiro pessoal, perceber o porquê de tanta injustiça sentimental e prosseguir com a viagem desencantada. Foi fácil amar, mas tão difícil esquecer que se torna sufocante esta corda amarrada a uma alma invisível. Tanto brilho, tanto encanto, tanta boda por festejar. Tanto e tão pouco por dizer. Palavras de um olhar que ficaram por ler, cerimónias mortíferas em tua honra, para ressuscitares de cada vez que para mim dirigias uma palavra. E foi essa a morte do artista!
Insistência maligna, flecha mortífera, amizade incompleta. Um segredo desvendado, por ser incapaz de esconder o que sentia! O sufoco era demasiado profundo, o rosto estava demasiado iluminado por te ver. E eras tu presente de outro alguém. Carinho do dia-a-dia de uma amizade de sempre!
Não foi uma traição, nem tanto um apunhalamento pelas costas, mas sim uma partida clandestina do destino! Fui perfurado abruptamente e, sem perceber, já o meu sonho vislumbrava a sua melodia no meu palco.
Sei que serei incapaz de te retirar de onde conseguis-te entrar. Mas sou capaz de adormecer tudo o que senti e vivi só. Mas não te sintas oprimido se sentires o meu batimento cardíaco tão perto de ti, aquando da próxima vez que nos cruzarmos. Será apenas o reacender de um triste passado que flutua cá dentro. Nem tão pouco te sintas lisonjeado, pois já nada me dizes. Apenas foste aquele que me abriu a porta para a busca que é de todos nós.
Sou agora diferente, maduro, um aprendiz mais sábio. Já nada em mim reconhecerias, a não ser este tal velho sentimento. Portanto, não pares para tentar reconhecer alguém que nunca conheceste. Acredita, faria diferença nesse teu mundo fingido, mascarado e que me desiludiu no dia em que blasfemaste o amor! Irias deparar-te com tamanho monumento que terias de me ver em livros, pois o teu olhar é incapaz de vislumbrar o que está acima do teu umbigo.
Podes tu também estar diferente e não quero estar a ser hipócrita ao julgar-te quando tanto perdi da tua vida. Falo do que conheço hoje de mim e que comparo com o que foste, e isso, assusta-me!
Mas se a verdade é para estar patente aqui neste desabafo, terei que ser realista e dizer que foste importante na minha vida. Foste o meu primeiro amor. A minha primeira desilusão! Navegas-te o meu mar e não foste até ao mais ínfimo recanto deste oceano, porque o teu coração assim não o permitiu. Sei que não foste o culpado. Que talvez me desses o universo, se assim o pudesses. Mostras-te amizade quando tudo se vislumbrou na tua mente, mas eras incapaz de estar por mim, de caminhar na vida ao meu lado. Não te culpo, não te censuro, nem tão pouco te responsabilizo pelas noites que chorei por ti. Apenas olho para trás com tristeza por ter amado o ser errado.
E darias pano para tanto desfile que faria um livro com a minha história sobre um amor perdido, sobre uma aprendizagem que no fundo acabaste por ser para mim. Serias a utopia do meu cosmos. Mas isso seria dar demasiada importância a algo que se tenta apaziguar.
Já retirei a lição que havia para aprender contigo. Portanto agora só me resta continuar e evoluir. Ficas-te para trás, apenas amarrado a uma corda invisível que está presa à parte do meu coração que representa desilusões!