terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Por onde anda esse amor?



Amor? Pareces-me distante, perdido… onde estás?
Um destes dias dei por mim, a andar sem destino, numa rua desconhecida. Olhei em redor, a tentar captar a informação que era enviada para o meu cérebro. Aí, apercebei-me de que estavas presente em todos os recantos dessa partícula da cidade. No calceteiro que docemente embriagava as pedras na calçada. Numa porta trabalhada por alguém, que gentilmente adocicou a madeira com desenhos de uma belle époque. E até na senhora velhinha, que espreitava meigamente o presente de uma cidade que já só recordava um passado distante.
Fiquei por momentos feliz, por perceber que afinal, tu, não existes apenas entre duas pessoas, que não vives somente quando os adolescentes choram um desgosto amoroso. Sobrevives e existes nas partículas mais infinitas que possamos imaginar, e encarregas-te de ser transportado nas veias que envolvem o nosso corpo. Aqueles a quem se chama ser humano.
Mas esta felicidade desvaneceu-se rapidamente, pois se por momentos fiquei deliciado com esta capacidade humana, de fazer crescer rosas no oceano, olhei mais profundamente e verifiquei que caminhas numa luta exaustiva contra um rebelde tirano, que te tenta tirar do pedestal ao qual pertences.
Ao fundo, num jardim, uma criança maltrata um menino com palavras de escárnio por este estar a brincar com bonecas. Na porta de um café, o dono grita desesperadamente, numa tentativa de expulsar um cliente alcoolizado, espirrando raiva dos poros faciais. No passeio, um pobre chora com fome… Onde estás tu agora? Apenas pertences a uma parte desta vida? E a outra? Fica assim jogada nos dedos cruéis de outros sentimentos que te ofuscam na sua negritude?
Por entre tamanha dualidade de situações, coloco as mãos no meu coração e encontro a razão de não desistir de te encontrar! Aqui reside toda a chama que me aquece, toda a força que necessito para não desistir. Posso até dizer que estou cansado, que quero parar de procurar com uma lupa, minuciosamente, a tua morada. A verdade é que quando chega a noite, sinto receio de viver para sempre sem saber de ti, sem te sentir a meu lado, sem respirar a tua respiração calma que me dá paz e tranquilidade.
Quero na verdade estar completo por essa tua aura que me faz sorrir quando a chuva cai lá fora, que me faz chorar quando encontro uma realidade igual à minha, coberta de amor. Quero que me esbofeteies com esse teu vapor de harmonia, quero encontrar-te!
O teu paradeiro não vem nos mapas. Muitos já ouviram falar de ti, outros já nem te podem ouvir, e alguns, tal como eu, não desistem de sorrir a imaginar a tua chegada, um dia… Mas não te encontro, não ouves a voz de quem te ama, de quem quer ser possuído por ti, de quem anseia que outro alguém se deixe envolver nos teus tecidos de seda carmim, por mim!
Escuto músicas que te louvam, vejo filmes que te representam, leio cartas que te descrevem, mas não te sinto… nem ao de leve, como se fosses invisível e muito frágil, como se não quisesses ser magoado. Já percebi que permaneces escondido, por aí, como um forasteiro sem tecto, sem paredes, sem casa. Manténs-te a monte, por entre gentes que nem soletrar o teu nome conseguem, ficas onde não és desejado, baralhas os dados e voltas a dar números que não fazem sentido! Vem, não temas que te maltrate. Prometo que farei com que esqueças toda a solidão que já viveste. E trás contigo aquele olhar brilhante, aquelas mãos que me agarram quando desfaleço, aquele suspiro que me arrepia a nuca, a pele suave molhada por gotas de algodão… o amor que me faz esquecer o amargo que sinto no paladar!


Deixa-me encontrar-te!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Um começo que recomeça


As primeiras palavras deste novo ano, o primeiro raciocínio que se vislumbra na minha mente. As sílabas melódicas que se vão soltando no meu ouvido, e eu sentado neste divã, pernas cruzadas, divagando com a caneta que tão gentilmente tantas vezes utilizo para patentear o que sinto…
O dia já amanheceu e consigo deixou para trás mais uma noite de viragem, uma noite de marcação, a noite das doze badaladas, das doze passas, dos desejos! Esses desejos que a noite registra em uníssono e que nos deixa a sonhar com uma possível realização.
Por agora já todos dormem, ou pelo menos exigem isso dos respectivos corpos, e eu, este divã, a caneta, o dia que já amanheceu lá fora.
A natureza envolve a acção desta passagem, coberta de misteriosos sons, de doces cores, da neblina que por vezes nos cega, do frio normal para a época do ano. Eu, sentado, o quente do meu corpo!
Preciso levantar-me, ou será que não? Valerá a pena adormecer num dia em que se comemora por ser o primeiro do ano? Deixa estar, é preferível permanecer assim, a colorir de cor a primeira tela.
Estou confuso. Não sei se escrevo porque é belo estar assim, em plena comunhão com o meu próprio ser, sozinho numa casa repleta de gente adormecida, ou se porque simplesmente necessito de depositar nas páginas parágrafos soltos de palavras embebidas em tinta de amor! Em ambos os casos sinto-me feliz. Sorriu por algo que não sei explicar. Apenas sinto em mim um poder infinito e prevejo que chegam novos momentos de felicidade. Pode ser o acaso, pode apenas ser pura fantasia recheada de desejos e vontades por realizar neste novo capítulo, a certeza não existe, e isto é apenas o que sinto! E o que sei? Um ser infinitamente complexo de atitudes!
Esta casa antiga, desconhecida, serve de palco para esta passagem. E esses sons que por vezes se vão soltando, como que a reclamar a invasão por presenças nunca antes sentidas. Não me assusto! Apesar de estranhos, acolhemo-nos neste deserto que ainda vive lá fora, no silêncio que permanece cá dentro. E abraçamo-nos, sem nos conhecermos. Tocamo-nos numa dança solitária, compreensível, aconchegante… Afinal, não somos assim tão diferentes. O que nos distância são estes poucos anos que tenho, e esses tantos que se perdem que possuis.
Já não existem palavras… Fico assim nas primeiras horas… Num silêncio profundo… Num encontro!