sexta-feira, 26 de junho de 2009

Quero não regressar!


Sinto-me morto!
Sinto-me morto numa inquietude assombrosa.
Sinto-me deslocado desta realidade suja.
Vejo no que me tornei e apesar do resultado ser num todo, surpreendente, o que tenho, magoa-me por ser um saco cheio de nada.
Quero fugir.
Fugir para longe de tudo e todos.
Correr para onde ninguém me conhece e onde as palavras não são repetidas e a esperança não me é mostrada diariamente.
Quero desistir! Mandar-me do primeiro penhasco que vir! Terminar de uma vez por todas com esta depressão desgraçada que não me larga, pegajosa.
Ninguém me conhece verdadeiramente. Todos se ofuscam com esta minha máscara fantástica de supra sumo da fortaleza. Ser indestrutível, cheio de garra, esperançoso, demasiado ridículo para ser verdade. Estou derrotado e cansado do mundo que está à minha volta, que me vê de olhos cegos! Desta família que passa por mim com um sorriso como se nada estivesse a acontecer!
Deixem-me ir.
Deixem-me estar.
Deixem-me!
Não quero mais nada. Cheguei ao final da estrada. Já não há nada que me faça voltar atrás. Já não há nada que valha a pena a minha permanência nesta angústia desesperante! Quero partir com a minha mala de mão e voltar nunca mais. Quero ir à aventura, descobrir novos lugares, novas que me façam desejar estar vivo.
Quero sair daqui.
Quero ir.
Quero não regressar!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Esta noite...

Esta noite.
De longe, assisto à minha personagem desempenhar o papel que lhe foi atribuído. Sentado na cadeira da mesa de jantar, visualizo o corpo deitado no sofá, que assiste televisão de forma a esquecer a vida que deixou de ter. Vazio, liberto, solto. Em mais uma noite, deixa de pensar, de sentir, de ser, entrando num mundo fictício de histórias cruzadas, de mundos retirados da realidade, pincelados no grande ecrã. Ri, chora, emociona-se. Encontra nos enredos criados por terceiros as emoções que deixou de ter na sua própria vida, na sua própria verdade.
Esta noite, quero ajudá-lo. Quero gritar para que tome uma atitude, para que mude, para que tente. Quero abana-lo para lhe dar vida! Quero estremecer o chão que pisa criando uma onda de ocupação, originando uma nova história própria, longe das novelas que vê todas as noites. Quero escrever um guião e dar-lhe-o para que o represente como só ele consegue, perfeitamente. Só ele sabe actuar de forma a exceder as expectativas deste papel. Mas com tristeza, este corpo encara-me de frente questionando, como queres que o faça? Baixa o olhar e soluça num choro perdido, já tentei a exaustão.
Esta noite!
Com raiva parto a loiça que se encontra em cima da mesa! Sinto uma revolta agonizante por me sentir impotente, por não ser mágico, por estar paralisado. Apesar desta força que possuo, não consigo criar nada para o corpo que vejo ali, desprotegido, frágil, só. Sei que a máscara de pilar indestrutível que usa, que é facultada por mim, espírito forte, agora distanciado do seu próprio corpo. Mas não será hora de o verem na sua verdadeira essência? No seu mais profundo receio de se mostrar? De perceberem que afinal é mais fraco do que julgam e que chegou ao fim da linha da esperança? Será a cegueira ao largo de um ser humano assim tão espantosamente sumida, que ninguém tem o discernimento de reparar no entulho de outro alguém?
Esta noite levantar-me-ei e abraça-lo-ei. Esta noite não quero que se volte a sentir despido. Vou protegê-lo, agarra-lo com determinação e suavemente sussurrar-lhe ao ouvido, que não está sozinho! Vou acariciar a sua pele suave, por vezes ainda de criança, e oferecer-lhe o carinho de que sente falta. Vou tomá-lo nos meus braços e num bafejo eterno, adormecê-lo pacificamente num sono de embalar.
Esta noite...
Não terá medo, não terá nada para além dele próprio. Estará em paz consigo mesmo, sonhando sonhos que pensou perdidos, numa tranquilidade passada e julgada extinta! Será suficiente e não deixará que os pesadelos o atormentem novamente. Verá o nascer-do-sol com alegria e a última lágrima que cair irá transformar-se num sopro de fé que o assombrará num tempo indefinido. Aí, encontrará a luz de que precisa, a esperança que é necessária para não desistir. Esta noite, ele irá recarregar as energias e respirar fundo.

Esta noite...


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Mudanças, onde estão?


Preciso de descarregar a fúria com que acordo diariamente, esta revolta arrebatadora e tão dolorosa que me torna pequeno e insignificante. Quase que chego a lacrimejar pérolas de sangue, quase que o meu corpo se torna em algo irreconhecível e tenebroso. Preciso de expelir a tristeza que trago no peito, os sentimentos que me deitam para baixo quando tento erguer-me no meio da escuridão. Preciso de revolução, de mudanças, de seres que não chegam, de gestos que fogem no meio da neblina, de reacções, de atitudes, de portas e janelas escancaradas com o vento! Quase que me perco, quase que já não sei quem sou, quase que desvaneço por entre a multidão, quase que só me deixo a boiar dentro da minha banheira de sal.
Que faço se o reflexo que encontro no espelho me mete nojo e entedia? Que faço se me sinto aborrecido e a perder-me na imensidão das estrelas? Que faço se já deixei de lutar porque perdi as forças? Raiva, raiva, raiva. Uma pitada de perturbação. Retiro um milhão de sorrisos e eis o meu resultado. Igual a lixo que espera impaciente por uma reciclagem que não chega!
Cheguei? Onde? Ao fim desta etapa interminável? E agora? Qual é o próximo passo a dar? O que vem a seguir? Meio ano paralisado não é suficiente para brincarem aos fantoches aí em cima? Que pretendem de mim? Que provação me querem dar? Que perguntas ainda têm para me oferecer durante a noite que eu ainda não tenha colocado? Preciso de uma espingarda para matar este cordel invisível mas pesado!
Mudanças, mudanças, mudanças! Onde estão? O GPS ficou sem bateria e agora não conseguem encontrar a minha morada? Sentado no sofá, bebendo outro copo de vinho, fumando mais cigarros dos que os que tenho, aqui jogado com a almofada que me amacia a coluna. Limito-me a estar, deixo de ser...
Não peço demais, sei que não. Só peço uma solução e não me ouvirão a reclamar novamente. Só preciso que me dêem algo a que me agarrar e a partir daí seguirei o meu caminho honestamente e com garra! E não me interpretem mal, não me dirijo ao amor, não é dele que preciso agora, não é um outro sofrimento em cólicas de dor que pretendo. A minha dose anual já foi tomada. Falo de realização, de sonhos perdidos que se escondem com vergonha de terem sido deixados para trás porque ninguém para além de mim lhes estendeu a mão. Falo de objectivos que tive e que persisto em tentar ter apesar da crise que se instalou à minha volta como uma muralha inquebrável. Falo de mim, do meu espírito envolvido em teias de ocupação, em horários preenchidos. De uma alma cansada por chegar ao final do dia em êxtase por ter tido mais um dia que valeu a pena. Falo de mim... do projecto que construi e que aguarda confirmação de construção! E a esperança que me dizem para ter? Dessa já pouco vejo a sombra...

terça-feira, 16 de junho de 2009

A minha família é esta amizade


Frescura rejuvenescedora, momentos que palpitam a mil à hora dentro do meu coração. Um sorriso que não consigo disfarçar por estar demasiado alegre para o conter, uma agitação libertadora por estar numa espécie de apogeu de felicidade!
Os olhos secam as lágrimas que insistem em personificar uma cascata humana. O abraço sentido com força envolve o meu corpo e sinto-me em casa, num lar que não me calhou nos pacotes de batatas fritas, mas que escolhi por minha livre e espontânea vontade. É esta família a que melhor me conhece. A que me compreende, a que sabe quem sou. Que aceita os meus defeitos, que adora as minhas qualidades, que sofre comigo, que grita com as minhas vitórias. A minha família é esta amizade que insisto em não perder. É esta ligação maior que o terreno, são estes irmãos e irmãs não de sangue, mas de vida, de alma, de coração! E haverá maior amor que este? Existirá maior júbilo do que aquele que apenas um amigo te pode oferecer?
A amizade.... Potes de ouro embrulhados em guardanapos de linho. Sopros de vento que nos refrescam quando estamos com calor, cobertores que nos aquecem quando o frio bate à nossa porta. Hoje sinto-me assim, com a necessidade de congratular todos aqueles que me amam tal e qual sou e que eu retribuo num amor incondicional e que não consigo demonstrar com todas as palavras. Mas se colocarem a mão no meu batimento cardíaco, se escutarem com atenção o meu olhar, saberão que é por vocês que me mantenho forte, que é por vocês que me sinto indestrutível, que me sinto forte e acima de tudo, honrado por vos ter ao meu lado nesta minha jornada.
E se eu voar sem saber para onde vou, saberei sempre que vocês estarão lá prontos numa busca pelo meu caminho! Sei que são vocês uma espécie de anjos que me protegem, que cuidam de mim, que me fazem sentir feliz por estar vivo. Sei que sou mais grandioso e que não necessito de riquezas, porque me sinto incalculavelmente rico com vocês na minha vida!
Obrigado a todos por estarem comigo.

sábado, 13 de junho de 2009

Tentar novamente


Queria tanto dar-te o que um dia recusaste e que mais tarde eu temi oferecer com medo de me magoar novamente.
Queria voltar aos tempos em que sonhava contigo ainda a dormir e que depois acordava contigo no meu pensamento.
Queria ainda que o nosso passado não tivesse enveredado por outros caminhos e que hoje tudo fosse diferente, mas nada disso aconteceu e agora somos diferentes, mais auto-conscientes e conhecemos-nos melhor.
Olho para trás e posso encontrar algum arrependimento em decisões que tomei, mas para quê? O destino já agiu sobre nós e se nos voltamos a encontrar, porque não interpretar isso como um sinal? Porque não aceitar a possibilidade de que desta vez pode dar certo? De que seremos capazes de enfrentar os nossos medos e receios e enfrentar uma história de amor?
Não pretendo mais dúvidas, não quero construir um castelo de areia, não quero ilusões e acima de tudo não quero brincar, mas também não quero caminhar com delicadeza. Quero ser impulsivo, deixar-me levar pela voz do coração, escutar com atenção um sentimento que julguei extinto e que agora renasce como se uma espécie de fénix se tratasse! Vou enfrentar-me e dizer que é isto que eu quero, mais do que nunca.
Vou dar espaço, vou dar tempo, vou dar tudo o que tenho. Vou mostrar-te o que perdeste, vou mostrar-me o que poderia ter sido. E se chegar ao final do dia e perceber que afinal havia tomado a decisão certa no passado e que nós não passavamos de um mero desejo, então não chorarei de tristeza, mas sim de alegria por a vida me ter dado a opurtunidade de esclarecer, por eu me ter permitido mostrar o que poderia acontecer e não prosseguir com uma dúvida eterna!
Acredito que existem ligações que são difíceis de explicar ou de entender, e sei que nós pertencemos a esse caso, mas não importa, não vou levantar mais questões aos brindes que me surgem inesperadamente. Somos assim mesmo, espuma de mar que vai e volta, círculos que por vezes estão fechados e nos fazem regressar à casa da partida.
Que as linhas da mão deixem de ter importância e vamos de uma vez por todas construir o nosso destino, a dois, os dois... E se era assim que estava destinado a ser? Que importa, somos que temos o mérito!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Cavaleiro de Brincar


Sinto-me como se alguém me tivesse dado um brinquedo e agora me o tivesse roubado.
Vejo a tua imagem dentro da minha cabeça como se de uma curta metragem se tratasse. O teu jeito meio desengonçado. O teu ar um pouco lunático. O teu olhar carinhoso. O teu toque decidido. As tuas palavras a tocar no meu pensamento com conforto como uma harmonia antiga. Lembro-te como se um dia estivesse estado preso numa torre de um castelo e tivesses chegado montado num cavalo branco.
Ainda possuo o teu odor nas minhas narinas. Guardo os poucos minutos que tive contigo como se algo religioso tivesse sido. Fecho os olhos e és tu que lá estás. A tua beleza misteriosa, a tua magia que me prendeu numa bola de cristal frágil. E este medo que me invade como o vento que arrebata as minhas persianas. Este medo triste de voltar a querer o que não me quer, este medo de mais uma vez deitar fora quem me quer por bem e de verdade. Este medo... o eterno!
Sinto-te agora longe, depois de te ter sentido tão perto, tão penetrado dentro de mim sem me tocar. Sinto-te agora numa distância localizada nos mapas, num longínquo que quero partir a ampulheta do tempo e trazer-te de volta até mim. Mas, e se não é isso que pretendes? Se não é estar junto a mim que te faz respirar e estás simplesmente entretido em deixar-me numa lista de espera cruel?
Uma vez mais e outra tanta. Perdido por me entregar sem um concreto palpável, em lágrimas por algo que desconheço, ansioso por um regresso que pode ser o quebrar do feitiço! E se as promessas voarem com as horas quando estiveres de novo aqui? E se o tempo te ajudar a encontrar outras respostas que procuras inconscientemente e te proporcionar algo diferente do que sou? E se...? Bolas, novamente estas ânsias, esta desordem que me provoca cicatrizes no coração, estas perturbações externas que provocam precipícios internos! Porque te vestiste de príncipe encantado para agora te cobrires com um manto pouco nobre? Porque invadiste o meu castelo para agora partires para a guerra? Tudo o que me resta é rezar a um Deus em que não acredito, pedir a uma religião em que sou descrente para te trazer são e salvo e desejoso de querer estar nos meus braços, pela primeira vez!
Vou ficar aqui, sentado na minha torre, aguardando impaciente a tua chegada, uma notícia tua, uma boa nova que me faça sorrir e voltar a acreditar! Vou esperar sem sono, de olhos abertos, sem descanso. Vou tentar não desesperar por não saber, sorrir quando pensar em ti, continuar a sonhar com o que podemos ser. As histórias de amor são isto mesmo, complexidade extraordinária. Cavaleiros de outrora que surgem nos nossos caminhos e que mesmo sendo só de brincar, por momentos se transformam em reais!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ter-te comigo...


Espero num nervoso miudinho a tua chegada.
No ar um forte odor a caril e a especiarias. O sol de fim de tarde rasga pequenos apontamentos espalhados pelas ruas. Algumas janelas ainda abertas, mulheres de lenço a cobrir o rosto gritam algo que não entendo, vendedores ainda a tentarem vender os seus incensos e tecidos vivos e delicados. Sei que o lar está longe, mas é como se sentisse o conforto dele aqui. O seu aconchego rasga as leis da distância e embrulha-me nos seus cobertores de lã. Não me sinto perdido, deslocado, com receio, sei que nada me acontecerá, não aqui onde a fé é maior que o Homem.
O nosso momento dá-se para lá do encanto! A tua pele bronze faz-me desejar coroar-te meu Rei! Os teus lábios carnudos excitam o meu corpo num gemido inaudível mas visível no transparente suor. O meu coração acelera com a tua presença. Vibro quando as tuas mãos aveludadas me acariciam. Viajo para além do tempo e do espaço, e só te ouço a ti, a tua respiração, o teu olhar. A cidade pára quando te aproximas. Os carros não andam mais, as crianças param de correr e até os cheiros se dissipam com o teu perfume! Apenas nós, uma primeira pessoa do plural isolada num rodeio de gentes, o rio que corre longe, o nosso momento, o nosso encontro!
Sei que isto não é fruto da minha imaginação, que te sinto na verdade. Completamos-nos nesta paisagem, numa fotografia memorável criando uma melodia para lá do romântico e de um amor platónico. Somos muito mais que um grande amor protagonizado no grande ecrã! Somos o sentimento, somos o desejo, somos dois seres numa entrega total e sincera!
Sinto a aceleração dos nossos corpos. O batimento cardíaco que ultrapassa as leis da ciência. Uma carícia que desliza na minha face. Um beijo que me roubas de mãos dadas. Um sorriso disfarçado e tímido... Quero ter-te assim para sempre! Preso neste encantamento demasiado bonito para ser real. E não, não estou a sonhar, estás aqui comigo, adormecido no meu abraço.
Quero deitar-te a meu lado, numa cama de linho, fresca e perfumada. Quero sentir-te no meu ser. Quero ouvir-te a meu lado. Adormecer com a lua a iluminar o teu rosto e ser essa a última imagem que guardo de ti antes de fechar os olhos e me perder em sonhos distantes contigo. Quero ao acordar protagonizar o melhor despertar da minha vida. Preparar-te o pequeno-almoço e levá-lo à cama. Dar-te fruta à boca. Estar junto a ti e nada mais ser importante. Ter-te comigo. Apenas comigo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Adeus memória constante


Sinto o vento bater-me no tronco nu com delicadeza. Estes dias de sol passados na praia abrem-me o apetite para o sentimentalismo e chego à conclusão inevitável de que é chegada a hora de te largar aqui, onde o mar se enrola na areia e leva os meus problemas para longe.
O oceano está forte aqui, assim como a revolta que possuo no peito pelos constantes dissabores que me são oferecidos numa bandeja de prata. Encaro-o sem medo da mesma forma que enfrento o que deixo aqui hoje a boiar numa garrafa de vidro. Sei que é chegado o momento de arrumar o luto e voltar às cores alegres que me caracterizam. Percebo que nada posso fazer e que é impossível fazer acontecer o que não está destinado a ser. Uma lágrima que cai e sei que é a última!
Encho a mão de sal e levo-a à boca habituada a receber o agressivo sabor.Volto a sentir o vento e permito que este me limpe a alma, em perfeita harmonia com a natureza, porque no fundo somos um só. A partir deste momento seco a minha dor abandonando-a clandestinamente. Volto a vestir a fortaleza e sigo caminho deixando as minhas pegadas para trás. Nunca esquecerei, mas também não será memória constante!
Adeus.