sábado, 15 de agosto de 2009

Procuro entender uma razão que não existe. Compreensão de uma raça humana que nos surpreende diariamente, apagando por completo todas as dissertações antes escritas ou ditas. Somos inconstantes mutantes que se camuflam e adaptam, que se transformam e adequam às situações. Imprevisíveis na verdadeira ascensão da palavra, meticulosos e ardilosos.
É impossível prevermos quem seremos. Perceber o que hoje somos! Todos os dias são diferentes e por mais adjectivos em comum que tenhamos, somos diferentes do nosso semelhante. A partir daqui nasce a dúvida. Aquela que questiona o próprio mundo, inclusive o seu próprio Eu!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Caminho...


Caminho um pouco embriagado nestas ruelas desconhecidas. Descalço e desamparado, roupas amarrotadas, de cigarro na mão, bolsa na outra, andar descompensado e desequilibrado. Os candeeiros de rua libertam uma luz de cor quente, um laranja fogo que cria sombras nas portadas das casas por onde vou passando, por detrás dos carros, até na própria calçada que piso. Não encontro ninguém, uma única alma viva que me indique onde estou.
Ainda sinto o paladar do vinho que havia estado a beber. O seu sabor mantém-se dentro da minha boca enrolando a minha língua. Sinto o odor a suor e a pastilhas de tabaco de mascar, álcool entornado em cima da toalha vermelha e rendada na bainha. O empregado que educado me servia mais um copo, para além do que devia beber. Apreensivo no final da noite, encaminhando-me a saída. Os olhares de soslaio à minha volta, demasiado penosos para conseguir suportar. A minha demência ali exposta como notícia de primeira página.
Saí perdido do bar. Desconhecia quem eu era, o que ali fazia, toda uma memória apagada em horas. Conversei comigo mesmo, questionando-me acerca de todas as dúvidas existenciais que podiam existir. Borbulhava no meu interior um medo arrogante e pegajoso, um receio de descobrir o que quer que fosse. Não encontrava respostas nem a quem as perguntar, estava agora sozinho dentro de mim.
Caminho. Não sozinho, a minha solidão acompanha-me como fiel amiga. Na bolsa o telemóvel sem bateria, já havia tentado ligar a quem quer que fosse, mesmo que fosse mais um desconhecido que fazia parte da minha existência. As chaves de uma casa que não conhecia a morada. Um bloco com apontamentos confusos e que não faziam sentido. Caneta, preservativos, pastilhas, tabaco. Tiro outro cigarro e sento-me no degrau do passeio a apreciar o silêncio da cidade. Por momentos, breves, apreciei a solidão na sua magnificência, quando ela consegue ser brilhante e libertadora. Depois. Depois chorei como só uma criança o consegue fazer.
Deitei-me no alcatrão, não me importando se sujava a roupa. Sentia a humidade da noite cair-me no rosto, uma neblina que se aproximava. Queria permanecer ali eternamente. Deitado, imóvel, quase que sem sentidos. Aguardar a chegada de um amanhecer que tardava em surgir nos telhados destes prédios que me envolviam como as mantas da minha velhinha avó.
Caminho. Corpo amarrotado. Olhos molhados. Caminho sem rumo. Vou por aí na esperança vã de voltar a descobrir quem sou…

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Solidão!


Solidão.
Terrível e dolorosa solidão.
Sentado, escutando o silêncio da minha existência, sinto-me preso num sufoco talvez criado por mim. Nada ao meu redor. Um nada vazio, preenchido de ausências.
Solidão.
Aquela que se arrasta com o passar do tempo. A que permanece num crescente assustador, demasiado real para ser invisível. Rodeado de pessoas, cada vez me sinto mais só. E um a um, vou afastando todos aqueles que sempre estiveram presentes, de mãos esticadas prontas a amparar-me.
Solidão.
Entrego-me. Não quero combater mais. Não quero mais guerras onde o final é sempre igual. Cedo o meu território sem pedir nada em troca. Gentilmente vou deixado o inimigo desbravar o meu campo, indefeso, coberto de uma aragem pesada e doentia. Sentado. Aqui sentido as ervas secas que outrora estavam pintadas de verdes e laranjas, de cores garridas e bonitas.
Solidão?
Mais que nunca!
Cercado de gentes que se distraem com os seus caminhos, não quero saber de nada nem de ninguém. Permaneço assim, dissimulado, empenhado em que tudo perca o seu sentido para ficar assim, só.
Solidão. Forte. Vencedora!
Sinto-me cada vez mais fraco. Doente. Preso a algo que já nem questiono o que é. Já não quero saber de dúvidas, de questões, de me encontrar, do saber. Quero estar assim, a deixar de andar por vontade, mas por favor e porque não posso permanecer todos os dias entregue ao aconchego da minha cama. Fingindo, levanto-me diariamente e continuo o meu destino, como se eu próprio soubesse para onde vou.
Solidão. Mascarada com um sorriso. Cegueira graciosa e palhaçada dos invisuais que me rodeiam e que não me percebem! Sempre fui um bom actor!
Solidão! Entrego-me a qualquer um. O meu corpo vai e dá-se a quem quiser aceitar, apenas para colmatar a falta que sinto e que não consigo resolver por não ter mais força. Por momentos, sou de alguém, não sendo nem de mim próprio. Como se o meu corpo estivesse possuído por uma entidade que desconheço o nome e que me comanda sem a minha permissão. Ou terei já eu assinado o contracto de aluguer deste corpo defecado por falta de beleza?
O espelho. Mostra-me a minha solidão. O meu reflexo nas águas turvas deste rio que passa nos meus pés deixa-me ver o que na realidade hoje sou. O reflexo de um sonho que não se realizou e que será eternamente isso, uma utopia!
Solidão.
Sou teu. Eternamente! Não vou lutar mais pelo que não está destinado a ser.
Desisto!