terça-feira, 11 de agosto de 2009

Caminho...


Caminho um pouco embriagado nestas ruelas desconhecidas. Descalço e desamparado, roupas amarrotadas, de cigarro na mão, bolsa na outra, andar descompensado e desequilibrado. Os candeeiros de rua libertam uma luz de cor quente, um laranja fogo que cria sombras nas portadas das casas por onde vou passando, por detrás dos carros, até na própria calçada que piso. Não encontro ninguém, uma única alma viva que me indique onde estou.
Ainda sinto o paladar do vinho que havia estado a beber. O seu sabor mantém-se dentro da minha boca enrolando a minha língua. Sinto o odor a suor e a pastilhas de tabaco de mascar, álcool entornado em cima da toalha vermelha e rendada na bainha. O empregado que educado me servia mais um copo, para além do que devia beber. Apreensivo no final da noite, encaminhando-me a saída. Os olhares de soslaio à minha volta, demasiado penosos para conseguir suportar. A minha demência ali exposta como notícia de primeira página.
Saí perdido do bar. Desconhecia quem eu era, o que ali fazia, toda uma memória apagada em horas. Conversei comigo mesmo, questionando-me acerca de todas as dúvidas existenciais que podiam existir. Borbulhava no meu interior um medo arrogante e pegajoso, um receio de descobrir o que quer que fosse. Não encontrava respostas nem a quem as perguntar, estava agora sozinho dentro de mim.
Caminho. Não sozinho, a minha solidão acompanha-me como fiel amiga. Na bolsa o telemóvel sem bateria, já havia tentado ligar a quem quer que fosse, mesmo que fosse mais um desconhecido que fazia parte da minha existência. As chaves de uma casa que não conhecia a morada. Um bloco com apontamentos confusos e que não faziam sentido. Caneta, preservativos, pastilhas, tabaco. Tiro outro cigarro e sento-me no degrau do passeio a apreciar o silêncio da cidade. Por momentos, breves, apreciei a solidão na sua magnificência, quando ela consegue ser brilhante e libertadora. Depois. Depois chorei como só uma criança o consegue fazer.
Deitei-me no alcatrão, não me importando se sujava a roupa. Sentia a humidade da noite cair-me no rosto, uma neblina que se aproximava. Queria permanecer ali eternamente. Deitado, imóvel, quase que sem sentidos. Aguardar a chegada de um amanhecer que tardava em surgir nos telhados destes prédios que me envolviam como as mantas da minha velhinha avó.
Caminho. Corpo amarrotado. Olhos molhados. Caminho sem rumo. Vou por aí na esperança vã de voltar a descobrir quem sou…

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