quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Hoje Apetece-me...

           

            Hoje apetece-me!
            Hoje apetece-me panquecas ao pequeno-almoço e o teu sorriso matinal.
            Hoje apetece-me apodrecer no sofá e ver aqueles filmes pirosos de domingo.
            Hoje apetece-me chuva na janela, labaredas na lareira e chá na mesa.
            Hoje apetece-me...
            Apetece-me apenas o simples apetecer de um doce. Apetece-me sal e pimenta também.
            Hoje apetece-me todos os sabores, todas as cores, todos os cheiros. Hoje apetece-me tudo! Mas também não me apetece nada.
            Hoje apetece-me ser invisível. Deambular na rua sem ser visto. Correr desnudo num parque com o sol a bater forte na minha cara e ninguém reparar na minha loucura. Hoje apetece-me o ridículo.
            Hoje apetece-me melodia. Cantar todas as musicas que conheço. Hoje apetece-me ate mesmo fingir que sei francês e cantar todas aquelas canções de que gosto. Hoje apetece-me.
            Hoje apetece-me viajar. Deitar-me no chão molhado e viajar. Perder-me na minha mente tão fértil em imaginação e imaginar. Repetir vezes sem conta, todas as vezes que me apetecer. Hoje apetece-me o desejo. Não. Hoje apetece-me muitos desejos.
            Hoje. Hoje sei que me apetece. Hoje não me apetece pensar no futuro. Hoje não me chateiem com as perguntas do costume. Hoje apetece-me silencio... E amanha?
Não me apetece.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Esta estrada...


             Sigo. Rastejo... Tento levantar-me!

Sangro. Tropeço, as mãos estendem-se. Nenhuma consegue agarrar-me.

Choro. Chove. Caiem inúmeras gotas no meu rosto encharcando-me.

Desisto.

Esta estrada esburacada cercada por soldados de pedra faz-me sentir derrotado. Olho para o céu em busca de respostas, mas as nuvens cercam os olhos de Deus e já não me sinto seguro.
             Outrora senti-me abençoado, agora sinto-me somente blasfémia. O cansaço apodera-se do meu corpo e nem mesmo o amor aquece o meu coração. Ando às voltas dentro de mim mesmo e vomito ódio. Rancor. Nojo. O escárnio sujo na minha pele faz-me sentir podre.
             E porque? Porque é que complico quando tudo se mostra tão fácil? Porque é que insisto em escolher as saídas mais difíceis quando encontro outras iluminadas pela luz da paz? Esta tudo aqui estendido no chão. Tudo tão a mão de semear. Tudo tão fácil de colher... Mas não. Prefiro sentar-me na minha poça de dor porque sofrer é mais fácil. O habito do sofrimento é tão mais forte em mim que tentar ser feliz e na realidade se-lo é tão confuso e obtuso que assim que posso tenho de danificar a minha colheita.
             Labirinto. O caminho parecia tão linear, tão sem falhas, tão a direito. Porque é que me perdi? Serei cego? Ou será que não quero ver? Ser? O problema é que não gosto do fácil e que continuo sem saber o que quero. O que amo. O problema é que por mais que mude o cenário nunca me vou sentir personagem principal. Vou sempre criticar o argumento. Irei sempre dizer que a culpa não é minha pela minha medíocre representação.
             Cansado. Cansado da desilusão. Cansado de não ser o que espero de mim próprio. Cansado de não estar à altura das expectativas. Cansado de não saber. Cansado de me enganar e continuar a acreditar nas minhas próprias mentiras. Repulsa!
            Sento-me. Sento em qualquer lado sem importar se sujo as calças. Eu sei que sujo já eu estou. O olhar que deixa de brilhar. A luz que se parece apagar. A estrada que se parece cada vez mais sem saída. Haverá ainda salvação? Haverá ainda muito mais por escrever? E Deus? Onde foi?
Dizem que a dor é o melhor condutor para a escrita. É por isso que estou de volta a estes parágrafos que tanto me viram dissecar a minha vida. Não sei ate quando irei continuar, talvez até quando a tristeza terminar... Ate la, preciso dos desabafos, preciso das palavras no papel novamente.