domingo, 25 de novembro de 2007

Entrada na plataforma


A minha alma ficou sufocada onde o mar se perde e o canto das ondas se enrosca com o bater das conchas!
Cai num descontentamento sem forma, composto de uma calma aparente, que de temerária nem a guerra lembrava. Era um ponto de fuga este. Uma estratégia elementar própria de quem tenta fugir às nuvens negras da vida.
Parti em busca desse horizonte longínquo, perdido algures no interior da floresta medonha, carregada de incrédulas miragens. Foi aí que a perdi. Que fiquei despido, vazio. Mas não seria tudo isto uma renovação? Uma comunicação entre Alfa e Ómega em plena harmonia num qualquer cosmo? Parti na viagem...
Não sinto tristeza, mágoas ou angustias por ter sofrido esta alteração pessoal. Foi e é hoje, pedaço do que sou! Foi neste deslumbramento humano, quando ainda nem bases possuía, que surgiu o que sou.
E agora? Deixa estar, não te preocupes, não tentes modificar. O molde foi feito e deitado fora. Sou feliz assim, em pleno com o que sou e quero. As minhas certezas são demasiado absolutas para derrocarem. E é somente isto o útil de ser legível. Esta passagem interna que tanta chama expeliu!...

sábado, 24 de novembro de 2007

Pai



Dói-me a nuca, arde-me a cabeça, prendem-se os olhos… E a audição? Não quero ouvir o que ela diz. Não pode ser verdade. Mentirosa! Ele não morreu, ele ainda está aqui comigo, connosco.
Porque dizes essas coisas se sabes que eu não vou compreender? È tudo demasiado penoso, demasiado surreal para ser real. E eu que nada tive com ele. Memórias onde estão? Relação... Quando foi? Questiono-me agora por tudo, por nada, para compreender, para tentar uma ligação de pai e Filho.
Sinto-me fraquejar, odiar a vida porque a morte lhe vence sempre, mas no entanto, também não sinto nada. Sinto um vazio ocupado por algo que não sei explicar. Bolas! É a morte! Ele morreu há um ano, é suposto eu brotar lágrimas de raiva, gritos de dor, bater em tudo e todos, mandar-me ao chão. Perguntar onde está esse Deus que tanto idolatram, afastar o mundo com a palma da mão… Mas não sai nada. Apenas fica este aperto no coração, inexplicável, incompreensível.
E tinha tanto para saber, tanto por contar. Perdi uma parte de mim tão importante. Aquele que me colocou agora a tentar patentear o que é perder um pai que nunca o foi!
Não sei se foi porque quis, se por ter sido afastado por não ser capaz de lidar connosco. O que é certo, é que só foram três anos. Três anos! Foi quanto tempo te deste ao trabalho de me ajudar a crescer. Mas nem nesse curto espaço estiveste presente. Não soubeste ser Homem, marido, pai. E por isso eu sei chorar, sou capaz… Por teres morrido? Deixa-me rir!
Falhaste o teu papel. Não soubeste dar texto ao guião que te deram, como tal, não podes criticar por termos saído de cena, abandonar o palco despidos, sem nada, deixando tudo para trás.


Passaram treze anos desde a tua morte! A mágoa continua alapada nas minhas entranhas, mas tenho conseguido sobreviver com a tua ausência. Também é quase impossível sentirmos falta de algo que nunca tivemos. A única falta que sinto é a de uma figura paterna, masculina, que me estendesse a mão quando precisasse. Um homem que estivesse ao meu lado para me dizer que vai tudo correr bem, até um Pai que me apedrejasse com rochas por descobrir que sou homossexual! Mas não, o que tenho nas mãos é um pó milimétrico do que foste, na imaginação, tudo o que poderíamos ter sido!
Já não te odeio. Agora sinto uma saudade que por vezes me faz chorar, mas apenas isso, uma saudade! E tudo culpa desta mente que fervilha com histórias incríveis do que é ter um pai, que inventa momentos que não vivi, que simplesmente me brinda com fantasias que nunca existiram para que possa chorar uma saudade, para que o meu coração palpite por ti!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Incompreensão



Um dia por breves inspirações,
Soltaram-se as palavras, fugazes.
Audácia! Vidas inacabadas,
Uma panóplia de emoções.

Segredos obscuros,
Luminosidade viril. Força voraz!
Caminhos trilhados, sem tudo,
Com nada.

Abrem-se as portas do passado,
Embrenhando-se na dose,
Pura, realista.
Acabou, morri!

Fénix de luz,
Despertei da mágoa,
Entrei no Mundo
Do sentir.

E vislumbrei, júbilo,
Sentimento,
Contemplação do invisual.
Casual casualidade.

E agora?
Terra prometida, lenda inacabada,
Poema por rescrever.
Vida por viver!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Decomposição!


O ser que se refresca com uma ansiedade de desejo e paixão. Uma necessidade que altera o verbo amar, uma força quente que regressa dando-me luta.Sinto-me de novo num corpo que não é o meu, reconheço esta alma que sempre foi minha. E sei que o que faço e o que quero é belo, é puro, é sentimento. Mas a verdade teima em planar no meu corpo e sinto este ardor que palpita no peito prendendo-me o movimento. Que fazer? Deixar seguir o que quero...Apenas vislumbro um caos, um cosmo apenas meu, impenetrável. Sentado num quarto fechado à espera que retirem a chave de entre tantas.Fico aqui, num abandono descomposto. E esta vida? Sentido? Faz com que tudo ganhe sentido! Faz-me acreditar em algo que apenas vejo os outros sentir, que reconheço quando choro a ver mais um beijo na tela. O que chamo decomposição pode estar tão composto para ti... Desinteressante! Vem apenas ao lugar combinado e faz-me caminhar.E se ainda não chamei a atenção de quem queria, valerá a pena insistir no que não se quer? Dúvida. Coração. Eu! Apenas decomposição.

Perdido


Sem rumo, sem destino, apenas com a humanidade insana de quem pretende surpreender. Caminhos, ligações. Pedra de calçada sentida, maré vazia que chega ao final do dia cansada, deslocada, ressentida por ser esquecida depois de usada.Aqui estou, sem ter a noção do que quero, mas iluminada a alma, pretendente do que vive, sabe bem, sabe ser. E sei mais do que julgo, sei tudo o que quero, sei que quero saber mais. E o verbo ser é presente, futuro diário de quem sonha, amargo doce mel, que me encanta e baralha.E a lucidez é transportada para o nível do inconsciente, e apenas o que ouvem são frases exactas de uma perdição que se prolonga e arrasta, empurrada pela maré da fraqueza!A grande civilização já passou e o que deixou, não foi o bastante para nos evoluir e fazer encontrar o Graal da evolução. Fazem então o que as normas indicam, e são poucos os que arriscam seguir ao contrário do povo, de olhos fechados, de mente tapada, com lenços disfarçados.Perdido! A reflexão da matéria, o ouro dourado. A menção que não chega para dizer não. E o longo caminho, perdido, aqui perfaz o que retrata a minha solidão. E tudo isto apenas para dizer... Perdido *

Raiva




Apoderou-se de mim, invadiu o meu espírito, comandou-me como um fantoche de teatro amador, mais profissional que tantos licenciados. Escravizou a minha vida. Sentiu o que eu tinha e era, transformou-se em algo imaginário. Era uma raiva que se passeava num corpo que já não pertencia à sua alma, mas sim a este adjectivo que me cegou e não me deixou ver a luminosidade de um sonho por algo melhor.
A culpa? Ideias preconcebidas, mentes introvertidas, sociedade por se descobrir, crescer e evoluir. Crenças que não são passadas, ideais que não são as de antepassados. Verdades únicas que se acompanham de tantas realidades mais verdadeiras e autênticas. Mentes fechadas, lenços que cobrem rostos, que já de si, nada querem ver. Críticas mordazes, dedos apontados, rejeições por algo que se desconhece!
E por tudo o que o povo acredita, instalou-se então a raiva, o medo, o sofrimento. Ainda a mente desconhecia que existia um mundo para lá dos muros da juventude e já máquinas de bala destruíam uma pureza que se devia manter por mais tempo. As questões surgiam, a revolta emergia e a vontade de terminar o que quer que se fosse era abrupta. E é aqui que tudo começa…
Tanta era a insistência na pessoa que era, tantos eram os pontapés que as bocas ao largo largavam, que acabou por crescer dentro de mim, sentimento feio, rebelde, tirano! E era tudo mascarado, tudo trabalhado, tudo ensaiado. Duas atitudes juntas num só corpo. Por fora surgia uma figura tranquila, fraca e que ignorava todos os preconceitos de que era alvo diariamente. Por dentro, gritava o mar revoltoso, sangrava o coração, brotavam lágrimas de morte.
Mas esta atrocidade só me inundava quando para lá da casa segura me afastava, quando chegava à selva desflorestada, pois era aí que os ataques surgiam e que sentia vontade de lançar uma bomba mortífera. No final do dia, no porto seguro, o ser transformava-se, era o largar da negatividade, era o viver somente com a alegria de poder ser eu próprio, sem receios, sem medos.
Felizmente não fui levado por ela... Talvez tenha aprendido a ser forte, percebido de que nada faria e que acabaria mais ferido do que já estava.
Mas foi tão doloroso, tão penoso, que não consigo evitar olhar para trás e chorar amargamente. Foi uma luta de todos os dias, minha e de quem quer que de mim gostasse. Normal ter de surgir de mim a maior força, mas era tudo tão difícil. Não tinha idade para aguentar tal fardo. Não tinha maturidade para tais preocupações. Não era suposto lamentar-me por ser o que era, quando todos os outros apenas se alegravam por serem parte integrante de uma vida.
A solidão forte, a escuridão envolvente. Crescimento tenebroso. Fingimento inacreditável. Raiva possuidora.
Monstros do passado com cara de gente, amargo entristecimento que me denegria o ser e que me fazia revolver atrás o passo de cada vez que
vencia.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

...



E será este o princípio? Ou apenas um final incompleto? A solução precária de dissabores acumulados num ser preso ao verbo ser. Dúvidas propostas, segredos por revelar, desejos subentendidos, ligações imprevistas. E o verdadeiro sentido para tudo, ou até para o nada, fará um real sentido? É uma fadiga que se move, uma preocupação que se instala, são derrotas com sabor de vitória!
Numa vida tudo se resume, pois por mais que se acredite em vidas passadas, é desta que nos lembramos hoje, é com ela que iremos até o corpo se deplorar. E quando a memória se torna numa fiel inimiga, passando - nos ao lado na batalha, voltamos a degustar o amargo fel de viver.
Íeis - nos aqui hoje, numa relutância por uma leitura de escrita falsária, mas conscientes de que a palavra nos transmite tudo aquilo que somos. Até para quem não as ouve (e não é necessário existir uma deficiência corporal), existem sentidos que nos fazem percebê - las.
Contudo, aqui estou, diário de hoje, memória de um passado que se tenta esquecer. História de vida, sentido para viver. Nem tudo se transmite em algo recontado, mas assim quem sabe talvez se encontre uma identificação, somente num parágrafo, diário!
Não trarei dias seguidos, não seguirei um rumo certo. Optarei apenas por divagar por passagens desta vida, minha! Contar e encontrar aqui um desabafo perdido. Ao fim ao cabo um registro posterior, uma análise reflexiva.