sexta-feira, 7 de março de 2008

Estou aqui!


Porque é que a felicidade me despreza? Porque é que me afastam como se de lixo me tratasse? Não entendo estes porquês que me perseguem como se eu fosse um bandido, um qualquer ladrão que já tivesse a sentença marcada! Sinto que a pena de morte vem no meu alcance e que já nada posso fazer, estou na linha em seu alcance…
Tento conter as lágrimas que querem saltar dos meus olhos, mas em vão. A solidão alastra-me como um vírus que já não tem cura, e sinto-me ser possuído por esta doença que só piora de dia para dia. E ver que ao meu redor tudo se acaba por encaixar, que parece ser mais fácil para os outros.
Odeio todos aqueles que apenas amam o belo, o que seduz o mundo, e que se esquecem que também existem pessoas de igual beleza interior. Estou aqui! Eu sei que posso não ser atraente, que posso não despertar os maiores desejos sexuais num primeiro olhar, que com toda a certeza não sou o mais belo ser à face desta terra. Mas bolas! Tenho tanto para dar! Sou tanto… Sou aquele que ama as pequenas peças que compõem este puzzle. Aquele que tanto trabalho teve para deixar cair uma máscara que tantos utilizam. Estou aqui! Sem esquemas, sem jogos, apenas com a certeza eterna de que possuo em mim, uma beleza interior capaz de derreter blocos de gelo.
Não quero que pensem que me sinto superior aos outros, até porque nunca é isso que penso acerca de mim. Queria apenas que se dessem ao trabalho de me dar uma oportunidade, um benefício da dúvida! Até porque o meu exterior permite que exista uma aproximação… Não sou nenhum bicho-do-mato! Vejam para além desta roupagem que me ilustra, olhem com olhos de gente e sentem-se comigo na esplanada da vida numa conversa amena. Podem descobrir tanto por me darem apenas quinze minutos da vossa atenção! Só pretendo apenas isso, um interesse sincero pela chama que temos cá dentro e não por esta fogueira exterior.
Também é certo que muitas vezes as vontades são diferentes, e pode acontecer eu querer algo tão intenso que assuste quem se aproximar. E em relação a isso, apenas digo que quero afastado de mim todas essas ligações momentâneas. Não quero acordar amanhã com a consciência de que vivi mais um momento passageiro, carnal, meramente sexual. Não entendem que quero construir algo?
Será que o nosso país, este mundo em que vivemos, carece de arquitectos? Eu bem os vejo a projectar casas e prédios, centros comerciais e estádios de futebol. Mas e que tal passarem a construir relações? Para isso não é preciso estudar. Não é necessário matarmos a nossa cabeça com geometrias. Basta querermos e trabalharmos em prole disso. Se esta atitude fosse levada em conta mais vezes, talvez víssemos mais cabanas à beira-mar… Cercadas de pegadas de felicidade!
E aqui contínuo no meu pranto, neste sufoco constante, que ora uns dias ataca, outros se afasta para me deixar respirar. O que é certo é que nada disto se resolve, que aquela altura em que tudo se resolverá nunca mais chega! “ Tem calma, um dia surpreendes-te, e quando não tiveres à espera encontras alguém!” Se soubessem o quão cansado estou de ouvir esta frase… Apetece-me rasgar a boca de quem tantas vezes me dá estes conselho! Não por maldade, porque sei que é dito com carinho e amizade, mas sim porque não existem momentos certos, porque não existem verdades absolutas em que a magia surge com pozinhos brilhantes. Então permaneço aqui, à espera que esse tal encanto chegue num recanto gélido que me parece eterno.
Estou aqui, pedaço de uma história que ninguém quer ouvir. Aqui me canso nos dias que passo a sofrer, em segredo, sem que ninguém perceba que afinal não sou tão forte como aparento ser. Aqui estou, escondido no meu quarto, local para onde não quero ir quando chega a noite, por saber que é aqui que me encontro comigo próprio e vejo no espelho o rosto da solidão! Estou… onde? Quando chega o sonho já não estou mais aqui, vou para longe, até onde a minha imaginação vence os limites, e aí, encontro os pequenos grãos que me fazem sorrir! Quero ficar ali, e não aqui…
Chega de me ignorarem, chega de fingirem que não estou aqui! Estou exausto de passar despercebido por entre os bafos de amor, de apenas ser reparado quando é para ser apontado por ser diferente! Sou gay, e então? Eu sou parte integrante desta sociedade, quer queiram quer não, e se querem que vos diga, muitas vezes sinto-me mais pedaço de gente do que muitos que por aí se passeiam na sua grandeza! Pena não ter esta força diariamente, e me lançar para o fundo do poço constantemente.
Podem dizer que sou incoerente, que possuo em mim a chave da felicidade, e que apenas eu posso sair deste estado deprimente. Mas não é simples, não é tão fácil falar como fazer. Posso sentir a fortaleza de uma muralha da china, posso durante o dia mostrar uma armadura indestrutível, mas basta olhar bem fundo nos meus olhos para ser perceptível o meu sofrimento. Cá dentro vive esta bomba de ar negro que não me deixa respirar, que me aperta o pescoço. Por dentro, toda a minha alma grita por algo tão escasso que só me faz chorar ainda mais!

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