quinta-feira, 26 de março de 2009

Deito-me na cidade


Deixo as minhas pegadas por aí marcadas, nas areias humedecidas da cidade. O dia vai a meio e o sol quente de verão aquece o alcatrão. Eu, aqui deitado, queimo o meu corpo como um pedaço de carne a grelhar. À minha volta os carros desviam-se da minha insanidade. Os condutores gritam perante a minha loucura, a minha liberdade. Quem se desloca no passeio, pára incrédulo, de olhar assustado, de mãos na cabeça. A cidade que ia tão bem em mais um dia de rotina, mexe-se agora com este pequeno estrondo que provoco, o trânsito que gero, a confusão que vou criando.
Sorrio. Um sorriso que vem cá de dentro, inexplicável, autêntico. Não me preocupa o que virá a seguir. Só quero derreter na estrada, continuar este movimento parado. Ficar assim a aproveitar o dia à minha maneira.
Mas nada é eterno e sou levantado. Tratado como um insano. Olhado como um perigo. Não importa! O gozo que que corre agora nas minhas veias é tão mais cheio de tudo, que este nada é somente isso. Fraco vazio.

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