quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Porta




Abrem-te a porta. Estás inseguro? Em euforia? É este um lugar onde se misturam verdades, ou se inalam mentiras. Aqui tudo é permitido. Podemos criar uma personagem à nossa volta, podemos desabrochar o que prendemos no dia-a-dia. Libertam-se medos, criam-se ânsias por sermos brilhantes. Temos de beber cada momento, pois estar aqui não é uma repetição de sempre, como tal, há que ser encantador!
Podem aproveitar para estar aqui e descontrair uns momentos. Estar com os amigos. Deixarem-se levar pelo som e mover o corpo ao sabor de músicas frenéticas.
Seremos sempre provocados por plumas e lantejoulas. Por seres que gostam de ultrapassar os limites e surpreender as crenças mais religiosas. Mas também, quem disse que não era possível? Este é o recanto dos que são colocados de parte, dos que se colocam à margem.
Quase todos vivem para isto, para este momento em que se libertam máscaras que ficam sós a chorar, por se sentirem usadas. A maioria da corte vive ofuscada de medos. De sentimentos de revolta. E quando decidem enfrentar a população em manada, esquecem-se que não é criando marchas, dias, que se vão impor e mostrar que não são diferentes. Pelo contrário, é simplesmente a demonstração de que são diferentes.
Mas a noite é rainha e grupos de criações clandestinas seguem em romaria para estes guetos de declínio mental.
Pode parecer fatídico e falso, alguém que pertence, que frequenta, que está presente nestes locais, estar agora aqui, a enfrentar a sua própria colonização com palavras mordazes e ferozes. Indo contra o que quase todos vivem. Mas existe uma explicação.
Movo-me pela vontade de ser eu próprio, e já lá vai o tempo em que usava uma máscara para tentar enganar alguém. Hoje sou o que sou, e não me importo. Pertenço a uma sociedade uniforme e tento a cada dia que passa entrosar-me nessa mesma. Não sou adepto de tentar chamar a atenção para o que sou, até porque tudo não passa de opções e como tal, a ninguém diz respeito. Tento sim, vincular a minha personalidade e deixar que os outros apreciem a minha construção de vivência.
Vou a estes locais porque por agora são os únicos, públicos, onde posso descomprimir o meu corpo em danças e estar da forma que quero com a pessoa de quem gosto. Onde posso namorar enquanto me divirto e bebo um copo. Pois aqui não haverão julgamentos, apenas algumas críticas invejosas. E também porque acredito no respeito mútuo, sendo eu também praticante da mesma modalidade, portanto, há que não chocar susceptibilidades.
Em suma, brilhos que interagem com cabedal. Drogas que cheiram a base para o rosto. T-shirts que parecem vestidos. Neste local, a imaginação é a palavra de ordem. Mas a sinceridade vistosa também. Na sua grande maioria vemos seres despidos de si mesmos, conhecemos a realidade que é tão fugidia no mundo lá fora. E não vale a pena sentirmos pena. Apenas temos de tentar ter calma. Deus fez o Mundo em seis dias, não somos nós que o vamos mudar num minuto. Não quando todos vivemos no sétimo dia. Em descanso!

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