quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Depressão!


Isolado numa sala fechada! O corpo sente a pressão de não conseguir respirar, e já tudo começa a girar na minha cabeça. Sinto os dedos dormentes, as pernas com falta de uma força anteriormente extinta e um sabor amargo a mágoa e rancor.
Quero erguer-me, aproximar-me um milímetro da saída, mas o meu corpo já não responde às ordens deste cérebro em decomposição.
Estou num paradigma de fadiga e raiva que me consomem por dentro e expelem faíscas salgadas de lágrimas nos meus olhos. Deparo-me num caso de solidão que julgava inexistente nesta vida tão embriagada de doces momentos sociais. E agora verto um corpo numa casa despida de requinte, uma alma nua que só precisava de ser abraçada.
Afastado, sozinho no parapeito da realidade diária.
Chego a ter a casa cheia de um vazio que já não chega para me preencher, no entanto é a razão que me faz continuar. Mas que importa? É suficiente ver que aparento uma máscara de fortaleza para que tudo se mantenha conforme está.
Aqui estou, sentado, um cigarro, uma música que me faz chorar, uma solidão que quero pisar com os dedos das mãos. Fazer desaparecer esta vida que corre nas minhas veias e fazer surgir aquela que sonho até quando estou acordado.
Afastei um amor, um sofrimento causado por não ser capaz de retribuir. Amizades que se criaram, vidas que se separaram, e tudo o que tenho agora é uma mão cheia de nada. As conversas que tenho a um são deprimentes e já me acho ridículo! Tantas hipóteses, tantas tentativas falhadas, tanto e tão pouco que só me apetece bocejar com esta depressão.
Arrasto-me numa estrada perigosa onde o sol não consegue penetrar nas nuvens negras que pintei. E se sou eu o dono deste pincel mágico, porque não consigo pintar o que quero? Sim eu sei, não saber desenhar não ajuda, mas se tantos conseguem pintar e nem pegam no pincel, o que faço eu aqui fingindo que sou pintor? Rasgo a tela…
Depressão! Aqui estás sentada no vão das minhas escadas. Entras-te por uma porta que não quis abrir e deitaste-te comigo numa cama de raiva e pensamentos negativos.

Sinto que o meu corpo pertence a outro ser, que deixei de comandar a minha vida! Vejo a minha alma colocada de lado e o meu corpo a ser jogado como um fantoche nas mãos de alguém que desconheço. Não quero estar assim, preso com uma fita adesiva como se fosse uma encomenda perdida. Preciso de lutar contra este pertence invisível que me prende os movimentos, que me sufoca, que me deixa imóvel!
Desconheço de onde veio esta força redutora, é transparente perante uma visão cega por não querer acreditar na resposta que é dada, nem sequer escuto qualquer som quando chega. O único sentido alerta é o toque, esse que deixa de existir para ser domado por algo inexplicável! Real? Imaginação? O meu físico a reclamar por um vírus perigoso? Apenas sei que tenho medo que a noite chegue, que o facto de precisar de dormir se torna num fardo assustador porque não quero voltar a adormecer com receio de me sentir preso novamente!
Começo por tentar não pensar em nada, levar o meu pensamento para bem longe do que está a acontecer. Tento ir dormir quando as forças padecem e se desmoronam, mas mesmo assim, no momento em que estou a chegar ao local encantado dos sonhos, sou colocado entre a espada e a parede e fico desperto num imóvel doloroso! Acordo assustado mas não me consigo mexer. Sei onde estou, sinto o meu habitat à minha volta, mas o meu corpo não responde ao comando do cérebro. Tento abrir os olhos, em vão, quero falar, sem som, revirar o corpo… sinto-me morto! Fico num silêncio perturbador com um peso sobre o meu corpo, numa batalha para tentar um movimento que seja. E assim permaneço num tempo que desconheço as horas, em minutos que não conto os segundos, num momento que me parece eterno!
Se tivesse sido um acto isolado, se esta acção não se tivesse tornado constante, talvez me mantivesse inerte a esta questão. Mas esta situação insiste em penetrar a minha pele e possuir-me na noite que não quero que chegue.
Agora sinto que perco a minha vontade, que já nada importa porque não tenho desejo para nada. Olho-me no espelho e encontro um robot que responde ao comando da rotina. Sentimentos? Onde estão esses doces gracejos positivos que sempre fiz questão de manter na minha vida? Tudo o que me resta é esta vontade cortante de chorar e de me isolar do mundo. A única resposta que quero dar a tudo, é o silêncio…
Desisto de tentar entender o que querem de mim, o que se passa realmente neste momento com a minha alma, o meu corpo. Simplesmente deixo-me levar, entregando tudo o que tenho a esta prisão que desconheço o paradeiro! Desisto de lutar!

1 comentário:

ana isabel disse...

e é então que a depressão que tomou lugar naquela cama, daquela casa e daquele corpo para nunca mais sair.

Belo texto. Muito profundo e cheio de sentimento