terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Numa manhã de Março



Porquê relembrar uma ferida que se tenta fechar e sarar? Porquê insistir na dor, quando a vida lá fora nos sorri e nos tenta encaminhar para uma felicidade alternativa? Não encontro explicação para a decisão que tomei, ainda estou a tentar digerir tudo o que disse e fiz. Mas por vezes a resposta menos lógica, é a resposta mais segura! E de que adianta investir em algo, quando o sentimento não é correspondido e apenas estamos a pisar mais um palco da vida, a representar mais uma peça em falta de actores, figurantes… público.
Não posso dizer que não estou a sofrer, que tudo isto me está a passar ao lado, que não passou tudo de mais uma brincadeira ou um capricho meu. Não! Sabia o que queria, sabia que desta vez queria tentar, que tinha chegado o momento de assentar, mas não funcionou. E é sempre preferível levar o barco até um lugar distante e desconhecido, do que naufragar.
Quero tentar perceber o que quero, encontrar um rumo a este caminho que traço diariamente. Quero poder olhar no espelho e encontrar um reflexo seguro e não envolto numa teia de mentiras e sufoco.
Em ti encontrei por momentos um porto seguro, um farol que foi o meu guia, mas a chama apagou-se e tive que acabar por atracar noutro porto, sozinho! Lamento as lágrimas! As minhas, e principalmente as tuas… Lamento ter despertado um sentimento que repudiavas e que não querias sentir. Lamento a forma como tudo acabou. Lamento ter de me afastar de ti para te proteger. Mas quem disse que a vida é um jogo fácil de jogar? Estamos constantemente a sofrer os dissabores dos dados.
Quero que penses em mim como uma porta, como um tapete vermelho que te levou até ao mundo ao qual tu realmente pertences. Se não te pedir demais, vê-me como aquele que de alguma forma te fez quebrar as amarras do teu ser e que te ajudou, por pouco que tenha sido, a libertar esse medo que não te deixava livre.
Vamos combinar apenas lembrar os poucos momentos de alegria que vivemos, e aprender com todos os maus que passamos. Esquecer as horas em que gritei contigo por dizer tudo o que pensava e outras tantas em que me calava por não saber o que dizer, com medo de me mostrar. Vamos esquecer os nossos mundos tão desiguais, as nossas diferenças tão vincadas e o que ficou por dizer… Vamos lembrar aquele dia… O nosso dia!
Obrigado! Não quero que me digas mais nada. Não me respondas. Apenas te quero dizer isto. Obrigado! Por me teres feito, num momento mágico, sentir especial, único, teu. Por me teres feito perceber que afinal não sou o objecto que pensei um dia ser. Obrigado por me amares, por estares comigo, por tanto e tão pouco que fizeste por mim.
Mas o jogo terminou e numa manhã de Março, lancei a última cartada. Quero que percebas que a minha decisão em nada esteve relacionada com terceiros e muito menos com um passado flutuante que já esqueci! Terminou, apenas isso.
Uma matilha de soluções, disparadas por uma garganta arranhada, infectada, engripada. Detalhes de uma constipação mal curada que originou uma pneumonia. E agora os médicos temem o pior! Mas porquê? Porque não tomaste o antivírus? Porque não houve precaução? Já não adianta, o paciente corre para os cuidados intensivos.
Explode o padrão com contornos de raios solares, tocando o que sou, iluminando o meu caminho. Luz? Incertezas constantes disfarçadas de uma certeza absoluta. Por agora, é isto que quero. O que pretendo é prosseguir como nunca quis. Sozinho.
E chovem rosas e margaridas, e cores pintadas aqui e acolá. Colam-se figuras dispersas nesta tela que é a vida.
E correm as veias, que percorrem todo o meu corpo, e se isolam numa espécie de tráfego em hora de ponta.
E reconheço caras, sons e sabores.
E parece-me tudo tão amargo, tão demasiado doce…
E esta consciência que não para de me atormentar o sistema. Que me confunde, e ora diz que sim, ora diz, tem cuidado. Mas de quem foi a infeliz ideia de a personificar num grilo? A minha devia ser um caracol, lento! E quando vê o perigo, fecha-se em casa.
Escrevo e não quero parar de o fazer. Escrever. Não quero deixar de gritar a minha dor. Não posso terminar, nunca, este diálogo interpessoal. Embora já não saiba o que quero! A dúvida transformou-se na minha sombra e agora não consigo ser uma espécie de Lucky Luke. Ela é mais ágil! Maldita!
Molhar o retrato em tinta-da-china, com gotas de oceano. As gotas! Essas ardentes lágrimas que brotam do meu coração! Encontro aqui, nesta bola de cristal, frágil, laranja fogo, um pequeno recanto para a minha solidão. Coisa rara! Uma espécie de magenta que se mistura no ar e retrata a molécula da minha existência.
Toque… carícia suave que me toca e sente. Estavas aí, no leito do meu ser, enroscado num ecrã transparente criado por mim.
Fim de tarde! Princípio de um final que não se deseja. Os dois, unidos numa nuvem de romance e paixão. Colocas-te o meu corpo na ponta dos teus dedos, e fizeste-me voar para lá do meu próprio desejo. E aí senti-me seguro! Segurança que mais tarde repudiei e que afastei com medo de sofrer, com medo de mim.
Agora estou aqui sozinho, a relembrar um momento que podias repetir vezes sem conta. Silêncio! Já não sei o que dizer… Vou limitar-me a soltar o meu pensamento e deixar transparecer em páginas de papel solto, o que quis com desejo, num passado tão presente, tão distante de um futuro. O nosso futuro!
Que encontres a felicidade um dia, e que eu não tenha sido o culpado de uma reviravolta na tua personagem. Não coloques em mim a culpa das tuas próximas decisões, das tuas atitudes vindouras. Aprende comigo a lição que tens a aprender, depois caminha. Sendo tu próprio o destino das tuas escolhas. Que a vida nos acolha no mesmo braço e nos volte a fazer sorrir.

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