
Procuro-te pela calada da noite. Saiu de casa em busca de um bafo fresco nesta noite quente de verão. Desloco-me impaciente pelas ruas desta cidade, tentando encontrar o teu olhar reconfortante novamente. Sei que nunca foste meu, que nunca te entregas-te, que o pouco que tivemos foi fruto da minha grande imaginação e que nada foi tanto. Sei, de forma cruel e que me magoa agora cada vez mais, que nunca existiu uma história complexa, fomos apenas uma passagem, tu inesquecível, eu... Quem fui?
Não entendo o que te move. O que te faz viver e querer. Pensei que te conhecia, que sabia quem tinha na minha vida, mas novamente deixei envolver-me num jogo que não domino, num enredo que me baralha e que dissimuladamente me tortura.
Como podemos ser tão cegos quando a verdade está mesmo à nossa frente? Amor? O amor deixa-nos tão deslumbrados que não conseguimos ver espinhos onde imaginamos rosas? Faz com que nos tornemos patéticos e manipuláveis? Ou será também essa a beleza que encontramos? A inocência do ser?
Neste momento habituo-me apenas ao facto de não existência. Ao destino que afinal virou à direita quando eu esperava que continuasse em frente. Os meus desejos dissiparam-se e cheguei à conclusão de que não me vale de nada fugir da dor com medo de sofrer. Voltei a cair num abismo vestido de paraíso e que agora guardo na gaveta da cómoda depois de passado a ferro.
Tento, em vão, encontrar-te. Tento na minha forma mais animal o verbo tentar. Mas para quê? Tu não precisas de ser encontrado. Precisas de te encontrar, e mesmo tendo estado eu disposto em ajudar-te nessa demanda, é algo que agora tens que fazer sozinho sem ajuda de terceiros. Não te posso obrigar a sair.
Um dia caminharás, altivo e cheio de certezas. E nesse dia olharei para trás, no momento em que tiver encontrado realmente um amor retribuído e vou pensar: Obrigado por esta passagem, hoje consigo ter o discernimento suficiente para saber dizer que isto é amor, e não uma simples brincadeira de bonecos do playmobil!
Um dia foste.
Um dia serás.
Mas não mais para mim!